Homilia de Dom Fernando Antônio Figueiredo
Lc 13,18-21 - As parábolas do grão de mostarda e do fermento
Através das parábolas, breves histórias e fatos corriqueiros do cotidiano, o Senhor fala às pessoas de boa vontade, colocando-as perante Deus. Nesse sentido, exorta-as a se reconhecerem como provenientes de Deus, felicidade perfeita, que as marcou com o sinal indelével do seu amor.
Nesse contexto, pode-se falar de uma pertença “natural” do homem a Deus e de seu constante retorno às origens, não obrigado de fora, nem movido pela ganância ou pelo poder, mas na autonomia de sua liberdade. É um crescimento contínuo, comparado ao processo lento e progressivo de maturação na natureza, como o grão de mostarda e o fermento colocado na farinha para fermentá-la. Palavras simples e acessíveis, que dispõem os ouvintes, diz S. Jerônimo, “a receber o grão da pregação da Palavra e a se nutrir com a fé, de modo que o pequeno grão germine e cresça no campo de seus corações”.
Nas margens do mar de Genesaré, seus ouvintes podem ver, diante de si, um arbusto de três metros de altura. O pequeno grão tornou-se uma árvore frondosa, com bela ramagem e fortes galhos, “a tal ponto que as aves dos céus se abrigam em seus ramos”. As aves simbolizam, no dizer de S. Hilário de Poitiers, “os Apóstolos, os quais se dividem e se espalham a partir do poder de Jesus”. Como o fermento, eles irão promover o crescimento do Reino de Deus a partir da Palavra proclamada ou, no dizer de S. João Crisóstomo, “eles irão difundir progressivamente por toda a massa a mensagem do Evangelho”.
Apesar dos meios serem simples, semente e fermento, os resultados se apresentam extraordinários. Assim, instruídos pelo Senhor e inspirados por Ele, os discípulos são orientados a conceber a difusão do Reino de um modo discreto e singelo, diferentemente da concepção de algumas correntes religiosas vigentes na época, que esperavam a vinda do Reino como manifestação grandiosa e estupenda do poder de Deus. Nos propósitos de Jesus, a instauração do Reino é fruto de uma transformação interior, escondida e silenciosa, retorno do ser humano ao seu estado de criatura, pois, como observa S. Gregório de Nissa, “no mistério presente em nós trazemos a marca da inefável divindade”. A pequenez do grão e a pequena quantidade de fermento ressaltam o triunfo da grandeza de Deus, e mostram que o Reino acontece, lentamente, e que ainda hoje estamos nos inícios da realização dos planos de Deus.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM