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“Jesus chorou... Vede como ele o amava”


O Dia de Finados coloca o drama humano da morte. Ter consciência da finitude e conviver com a morte suscita interrogações e a busca de sentido para o viver e o morrer. Tantos carregam as marcas do sofrimento da morte das pessoas amadas e têm dificuldade de lidar com o luto, as emoções, o vazio. Têm dificuldades para restabelecer a esperança e a alegria de viver.É o retrato da condição humana.


Jesus Cristo, verdadeiro Deus e homem, quando se encontra em situações de morte envolve-se profundamente. “Quando Jesus a viu (Maria) chorar e também os judeus que a acompanhavam, comoveu-se interiormente e ficou conturbado. (...) Jesus chorou. Diziam, então, os judeus: Vede como ele o amava.” (Jo 11, 33-36). O enterro da viúva de Naim relata: “Ao vê-la, o Senhor, encheu-se de compaixão por ela.” (Lc 7, 13). Às vésperas da sua paixão e morte na cruz rezou: “Sinto uma tristeza mortal! (...) Afasta de mim este cálice." (Mc 14, 34-36).


A sede de infinito pode afastar a reflexão sobre o tema do morrer. Morrer, nem pensar! Poucos consideram que viveram o suficiente. Todos se acham no direito de esticar o mais possível a vida na terra; talvez para atingir o limite máximo dos 122 anos, segundo pesquisas de cientistas americanos (cf. ZH, 15/10/2016). Então, o que fazer para saciar este desejo de infinito, de eternidade?


O cristianismo vem em socorro desta angústia humana, ao apresentar o maior presente que Deus nos dá: a vida eterna. O credo cristão culmina na proclamação da ressurreição dos mortos e na vida eterna. Tertuliano, no começo da era cristã, dizia: “A confiança dos cristãos é a ressurreição dos mortos, crendo nela, somos cristãos”. Esta confiança nasce dos ensinamentos de Cristo sobre a vida eterna. “Teu irmão ressuscitará. (...) Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês nisto?” (Jo 11, 23-26)


O crer não dispensa os sentidos, mas ao contrário: os supõe e, através de rituais, a crença torna-se visível. A Igreja motiva a visita aos cemitérios no Dia de Finados, como também em outras oportunidades, e a participação nas celebrações litúrgicas fúnebres pelos seguintes motivos: a) o credo cristão professa a comunhão dos santos, isto é, os batizados estão unidos em Cristo, sejam vivos ou falecidos; b) a solidariedade para com os familiares dos falecidos; c) oração pelos falecidos, suplicando a misericórdia divina. Rezar pelos mortos é uma obra de misericórdia.


Visitar e cuidar dos cemitérios é uma atitude de respeito com as pessoas que colaboraram na construção da história familiar, da cidade, que transmitiram ciência, tecnologia, valores e a fé. É uma oportunidade para meditar sobre o mistério da vida, da morte e da eternidade. Estes mortos, aos olhos humanos, provocam a consciência dos vivos para o legado que deixarão.


Também, a atitude de levar flores é muito significativa. A obra da criação é bela e colorida. A vida da pessoa falecida foi uma obra bela, além das atitudes de bondade, cuidado e amor que teve. As lembranças provocam saudades dos momentos bonitos vivenciados. As flores manifestam o reconhecimento e a gratidão.


Significativo é acender velas que, na fé cristã católica, são símbolo do Cristo Ressuscitado e da fé na vida eterna. O fogo da vela é luz, é calor, é sacrifício, é purificação. A cera, que vai se consumindo lentamente, é imagem da vida que foi se sacrificando (no sentido de tomar sacro, sagrado) até a chama se apagar por ter-se cumprido a missão na terra.


Levar a sério a limitação humana, que tem na morte física o limite insuperável, é o melhor convite para valorização, o cuidado e a promoção da vida. É um grito para viver bem e se ocupar daquilo que tem valor de eternidade.

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