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Homilia de Dom Fernando Antônio Figueiredo

Mt 5,1-12 - As bem-aventuranças (Comunhão dos Santos)



Numa bela manhã de primavera, o sol inundava a planície em que se encontravam Jesus, ao seu redor, os Doze, o grupo dos discípulos e o povo que Ele tanto amava. Em suas mentes, estavam ainda presentes as primeiras palavras, ditas por Ele, no início de sua missão: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Agora, em sua pregação e ensinamentos, Ele quer tornar presente no mais íntimo da vida de seus ouvintes a caridade em sua forma mais autêntica e pura. Ele fala com doçura e simplicidade; trata-se do cumprimento da intenção suprema da Lei e da intenção mais íntima do ser humano, expressa em seu “coração”, “onde, salienta S. Leão Magno, a mão veloz do Verbo escrevia os decretos da nova Aliança”, as bem-aventuranças. Em momento sublime de inspiração, sua voz proclama a paz e a misericórdia; sua Palavra salvadora supera os antigos limites e marca o início do novo tempo escatológico: o estado definitivo de felicidade, experiência viva e acessível a todos os que o ouviam.


Ele é o novo Adão, no qual o ser humano encontra paz e amor, que expressam seu ser verdadeiro recebido do Criador; os homens existentes neste mundo, enquanto historicamente têm sua origem em Adão, estabelecem uma relação harmoniosa de uns com os outros; os pequenos e pobres, os famintos e os que choram, integram o novo Reino de serviço mútuo: é “a vida pura e sem mistura das bem-aventuranças”, segundo S. Gregório de Nissa. Assim, proclamando a força do amor e da solidariedade, a coragem de sustentar a verdade e de viver a misericórdia, Jesus coroa sua pregação profética: anuncia e denuncia.


Para os cristãos, a mensagem de Jesus é o sentido derradeiro da vida humana em Deus e no mundo. Se as bem-aventuranças falam de despojamento e de pobreza, elas atestam que a riqueza essencial reside no fato de o ser humano não estar fechado sobre si mesmo, mas que ele é um ser em abertura e de perpétua interlocução com os outros e com Deus: chamado a se colocar em comunhão com todas as criaturas, ele participa do coro universal de louvores a Deus. Na medida em que se deixa guiar pela liberdade interior, as paixões se calam e os movimentos da alma se transformam em caridade, e ele trilha o caminho que o introduz na Terra Prometida: “Então, o deserto se transformará em um vergel, e o vergel será tido como uma floresta. O direito habitará no deserto e a justiça morará no vergel. O fruto da justiça será a paz, e a obra da justiça consistirá na tranquilidade e na segurança para sempre” (Is 32,15-17). É a restauração da criação, melhor, é a verdadeira nova criação, que se instaura em Cristo, total e perfeita comunicação de Deus, vindo a nós em forma de perdão e de misericórdia; todos se reconhecerão irmãos e viverão não só por Ele e nele, mas estarão diante dele, num processo dinâmico orientado para um fim escatológico: a comunhão dos santos.


Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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