Homilias de Dom Fernando Antônio Figueiredo
Lc 21, 29-33 – Parábola da figueira
Jesus acabara de falar do fim do mundo, suscitando dúvidas e angústia sobre o infinito mistério do Depois. Após alguns instantes de silêncio, os Apóstolos lhe perguntam: “Quando será isso, Mestre?”. Para que estivessem preparados e prontos para a sua vinda gloriosa, Ele lhes conta então diversas parábolas, dentre as quais a de uma figueira, fonte importante de alimento para os judeus. No seu florescer, ela anuncia que o inverno passou e se aproxima o verão, época em que se recolhem os frutos para guardá-los. Assim, o fim último nada tem de fim; é a vinda do Filho do Homem, encontro consolador que lhes segreda a entrada no Reino de Deus, ascensão inesgotável, ocasião em que eles, como a figueira verdejante, apresentam seus frutos de amor e de misericórdia.
Mesmo os pecadores, diz S. Ambrósio, “cobertos de folhas de figo, como de uma veste enganadora para esconder a sua consciência, não perdem o ânimo”, pois a instauração do Reino de Deus não está reservada ao Fim dos tempos: ele está próximo daquele que se converte e crê em Cristo. Por sua vez, S. Gregório de Nissa escreve que “toda criatura humana está sendo continuamente criada, e se realiza pelo acréscimo de bens; nela não se vê limite, tampouco, ao mesmo tempo, que o movimento para o que é melhor seja circunscrito”. Mensagem esperançosa, refletida pela própria parábola, ao dizer que o agricultor vem cada dia e bate à porta, esperando que a figueira produza bons frutos.
Mas apesar do tempo, que precede a vinda gloriosa do Senhor, estender-se por um futuro longínquo, nossa sorte se decide agora, completamente. Em cada instante, decide-se por uma comunhão de uns com os outros, dos homens com Deus, ou por um fechamento sobre si mesmo. E isto implica a realização de nossa vida, cujo desfecho final se dará no encontro com o Senhor, que, desde já, nos envolve em seu amor misericordioso.
Por conseguinte, a vida no Filho do Homem, que está chegando, é o caminho, movimento constante, para a nossa transfiguração final, que seria incompleta sem nosso corpo, essencialmente relacionado com o universo, também atingido pela desordem do pecado: em Cristo, a verdadeira nova criação começa hoje.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM