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Homilias de Dom Fernando Antônio Figueiredo

Mt 11, 28-30 - Jesus é o Mestre com fardos leves



Um dia, voltando-se para os peregrinos que o acompanhavam, disse-lhes Jesus: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo”. O chamado de Jesus era, em geral, um apelo à conversão, com consequências práticas na vida social e familiar, como privar-se de suas posses e deixar a família e o lar. No presente momento, Ele orienta seus ouvintes não para estas características formais próprias de uma conversão ou mudança de vida, mas, provavelmente, ao se referir “ao peso do vosso fardo”, Ele esteja falando, num sentido figurado, das muitas obrigações e prescrições, que os escribas e fariseus colocavam sobre os ombros do povo. Por outro lado, ao falar da salvação, Ele a designa como sendo um “jugo suave”, isto é, “bem ajustado”, “adequado” àquele que o segue, pois a santidade de vida é alcançada, justamente, por uma conduta religiosa e moral, em que as obrigações meramente jurídicas são superadas pela dedicação misericordiosa ao próximo.


Para os fariseus, que permaneciam mergulhados no mar do ritualismo e da casuística das intepretações da Lei, arma poderosa de domínio sobre o povo, e terreno fértil para abusos e arbitrariedades, as palavras de Jesus lhes pareciam incompreensíveis. O povo, no entanto, se alegrava com o que ouvia, e dizia ser Ele, nas palavras do profeta Isaías, o Arauto da boa notícia, aquele que traria aos fatigados o verdadeiro descanso; Ele é o “Sábado” do Povo de Deus: “Seu fardo é leve e seu jugo é suave”. Se alguns dos ouvintes hesitavam, pois suas palavras soavam como uma novidade imprevista; muitos outros o seguiam pelo caminho da misericórdia, que lhes infundia esperança, alegria e coragem.


Ao Filho amado do “Abba”, doce e humilde de coração, foram confiados o mistério e a instauração do Reino dos céus, juntamente com o poder de revelá-los aos discípulos, inscritos na escola do amor “agápico”. Porém, alguns deles, ao ouvirem o Mestre dizer: “Eu vos darei descanso”, sentem-se decepcionados, pois, escreve S. Agostinho, “é possível que eles esperassem uma proposta diferente” e não apenas a de um repouso para refazer suas forças.


Com o passar do tempo, eles irão perceber que a intenção do Mestre é orientá-los para a compreensão do verdadeiro sentido da Lei: a justiça e o amor. O desconhecimento, pior, o desprezo deles será causa de ruptura entre Lei e Vida, tornando a observância da Lei pesada e insuportável, e o cumprimento das prescrições legais uma grande hipocrisia. Caso optem por segui-lo, “o coração inquieto deles encontrará repouso” e eles estarão participando da verdadeira e interminável Vida.



Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM

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