Fr. Michelini: preparei os textos para o Papa na Galileia
Papa na Casa do Divino Mestre, em Ariccia, no encerramento dos Exercícios Espirituais em 2016 - OSS_ROM
Cidade do Vaticano – “Tentarei colocar no centro das minhas reflexões – durante os Exercícios Espirituais pregados ao Papa Francisco – não somente a Paixão, morte e Ressurreição de Jesus, segundo narrado no Evangelho de Mateus, mas cada pregação minha terá como referência e contexto a Galiléia, em particular Cafarnaum, lugar privilegiado onde o Senhor começou a sua pregação”.
Foi o que antecipou ao jornal dos bispos italianos “Avvenire” o Frade Menor Padre Giulio Michelini, nascido em 1963, que guiará de 5 a 10 de março na “Casa Divino Mestre, em Ariccia - na presença do Pontífice e da Cúria Romana - os Exercícios Espirituais.
“Justamente para melhor preparar-me ao clima destes Exercícios – confidenciou – retirei-me por dez dias em um dos locais mais sugestivos e silenciosos da Galileia, Cafarnaum, hóspede do convento de meus confrades da Custódia da Terra Santa, para respirar e tocar com a mão os mesmos lugares pisados e habitados por Jesus. Eu estive, entre outros, a poucos metros da casa de São Pedro”.
O religioso, docente de Exegese do Novo Testamento no Instituto Teológico de Assis, explica que em relação aos últimos predecessores que pregaram os Exercícios Espirituais ao Papa Bergoglio – o carmelita Bruno Secondin e o servo de Maria Ermes Ronchi, que trataram em suas meditações sobre o Profeta Elias e as “Nuas perguntas do Evangelho” - “eu escolhi um texto como o Evangelho de Mateus, sobre o qual eu trabalhei para o doutorado e nas sucessivas pesquisas biblistas, para apresentar aos meus interlocutores o mistério da Paixão, morte e Ressurreição de Jesus. Não tem, também, como não entrar em questões técnicas e exegéticas, que serão, então, propostas com uma leitura do tipo existencial e espiritual”.
Segundo Frei Michelini, a escolha do tema destes Exercícios é inédita, “porque a liturgia apresenta em momentos separados a Paixão e morte de Jesus, nos dias do Domingo de Ramos e da Sexta-feira Santa, em relação ao anúncio da Ressurreição que tem lugar no dia de Páscoa. Por meio de uma leitura contínua, contemplaremos ainda mais conectados, no arco dos Exercícios, os três últimos mistérios da vida de Jesus”.
Mas a verdadeira novidade deste ano, reside em outro aspecto, como explicou o religioso, que descobriu sua vocação em Assis. “Eu quis que além de minhas reflexão houvesse uma elaborada por um casal de esposos que acompanham há anos o meu trabalho de exegeta - Mariateresa Zattoni e Gilberto Gillini – e que em outra meditação houvesse também a contribuição de uma Irmã Clarissa, que deseja permanecer anônima e vive no mosteiro de Giubbio”.
O Frade Menor revela sorrindo, que “o primeiro texto, aquele escrito por Mariateresa, tratará do tema da mulher de Pôncio Pilatos e sua tentativa de convencer o marido a libertar Jesus, enquanto a Irmã Clarissa nos ajudará a refletir sobre a “unção de Maria de Betânia” que precede o momento da Paixão”.
“Penso – confidencia ele – que a reflexão desta irmã do claustro agradará muito ao Papa Francisco, mesmo porque no contexto da unção da cabeça de Jesus se voltará com a mente àquela passagem de Mateus em que o Senhor diz aos discípulos: “os pobres sempre tereis convosco”.
A ideia de pedir uma contribuição a outras pessoas, talvez seja um caminho “inexplorado e nunca percorrido – considera o frade – mas eu queria apresentar ao Papa também a leitura concreta do Evangelho, visto com a vivência de um casal e de uma contemplativa. Idealmente, levarei estes três amigos comigo na semana do retiro em Ariccia”. Uma ocasião privilegiada – segundo Padre Michelini - para ler juntos com um olhar original, durante os Exercício Espirituais, as páginas da narrativa da Paixão de Jesus.
“Em outubro de 2013 – confidencia – pude oferecer ao Papa Francisco na visita a Assis, uma publicação minha que é um comentário ao Evangelho de Mateus. Pessoalmente me tocou o fato de que o Papa tenha escolhido “um simples frade”, que vive em um convento de província, mesmo sendo exegeta, proveniente daquele que Bergoglio – que escolheu assumir o nome do fundador da minha Ordem, o Pobrezinho de Assis – definiria “periferia”..”.
Na semana dos Exercícios será possível não somente refletir sobre o final da existência terrena de Jesus, mas também sobre a atualidade.
“As nossas meditações – explica - não serão somente em chave exegética, mas se abrirão ao mundo contemporâneo por meio de referências literárias e as notícias. Colocarei em relação, na última meditação, o “despertar” de Jesus no sepulcro com um particular despertar de que fala Kafka na “Metamorfose”, aquele do protagonista Gregor Samsa, mas leremos também textos de outros autores como Amos Oz o Emmanuel Carrère, e também trechos de jornais, com textos de Gramellini e Maraini, este último sobre o massacre de Aleppo”.
“Faço votos – conclui Frei Michelini - sobretudo de poder ajudar aqueles que participarão dos Exercícios a redescobrir o sentido mais íntimo das última palavras de Jesus, colher o espírito delas e assim nos preparar da forma mais autêntica para a Páscoa. Para aprender, em suma, a estar verdadeiramente com Jesus”.