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Brasileiros no Vaticano para debater o direito à água


Seca na Paraíba: encontro no Vaticano debate direito à água - REUTERS


Cidade do Vaticano - O encontro “O direito humano à água” foi aberto na manhã de quinta-feira, 23 de fevereiro, no Vaticano, pelo Cardeal Cláudio Hummes, Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia e da Rede Eclesial Pan-amazônica, um dos promotores do evento, com a Pontifícia Academia das Ciências.


Participam cerca de 90 especialistas, dentre professores, membros de ONGs e representantes de governos. O primeiro painel no programa abordou a questão da “Educação para uma ecologia integral; o desafio do futuro”, com o pronunciamento do Rabino-chefe de Roma, Riccardo di Segni, que terminou citando Isaías: “Vós tirareis com alegria água das fontes da salvação”.


O debate prossegue inspirado em passagens da Encíclica Laudato si: o acesso à água potável e segura determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos. Seguem-se ainda a grave dívida social com os pobres que não têm acesso à água potável e o desperdício de água nos países que possuem grandes reservas.


O Brasil está bem representado no Seminário: além do Cardeal Hummes, estão presentes Benedito Braga, secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do estado de São Paulo, Virgílio Viana, Superintendente geral da Fundação ‘Amazonas Sustentável’, e Ivo Poletto, fundador do Fórum Social Mudanças Climáticas, que em entrevista, afirma que a questão da água “é um dos dramas que a Humanidade está vivendo”.


“A água existe na natureza, mas está mal tratada. No nosso caso, no Brasil, está mal tratada em cada localidade e por outro lado também não se tem prestado atenção no que é que garante a água para todas as pessoas. Nós temos o cuidado, em cada bioma, e ao mesmo tempo, temos que nos dar conta que os biomas são relacionados entre eles e nos ajudam a garantir a água”.


“No caso do Brasil, para pegar dois exemplos: temos SP e toda a região Sudeste, chegando ao Nordeste, no bioma ‘Mata Atlântica’. Hoje, praticamente não existe a cobertura vegetal natural da Mata. Se nós pegarmos a região onde vivo, Brasília, o cerrado. Praticamente já não temos o cerrado por causa das iniciativas econômicas que foram implementadas. O que acontece? Um desequilíbrio enorme de águas, tanto no Sudeste como no Centro-oeste. Brasília, que é uma cidade de 57 anos, passa já pela primeira experiência de racionamento de água, uma coisa que nunca tinha acontecido. Isto se deve à diminuição de chuvas no período normal de chuvas, de outubro a abril. Já são dois anos que chove menos da metade”.


“Quando a gente se pergunta ‘por que’, certamente uma compreensão maior é a relação entre a falta de guardar a umidade mínima numa região que já é seca, como o Centro-oeste, e a relação com a Amazônia, de onde vem a umidade que permite a chuva intensa neste período, no Centro-oeste, assim como em SP, no Sudeste, e em boa parte da América do Sul”.


“Neste sentido, nós temos que nos perguntar: ‘Por que a Amazônia está oferecendo menos umidade, menos água para as nossas regiões? Isto se deve ao desequilíbrio provocado pelo desmatamento na Amazônia que já e igual a três vezes o território do estado de São Paulo. É um desmatamento imenso, mesmo se em relação ao tamanho da Amazônia parece pouco, 20%. Isto gera um desequilíbrio na Amazônia e por isso, um desequilíbrio na relação com as outras regiões”.


“Temos que repensar, realmente, a nossa relação com a água e para isso, temos que perguntar à terra: ‘O que fizemos de errado até agora, na relação com a sua vida, para que tenhamos já dificuldade de água para beber e para outras utilidades?’.

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