Homilias de Dom Fernando Antônio Figueiredo
Jo 5, 1-16 - Cura do enfermo na piscina de Betesda
Com quatro pórticos laterais e um quinto pórtico divisório no centro, a piscina, denominada em hebraico Betesda, estava repleta de doentes. Um deles, doente há 38 anos, suspirava por alguém que o ajudasse a chegar às águas, pois, quando agitadas pelo Anjo do Senhor, “o primeiro, que aí entrasse ficava curado”. Até aquele instante, ele não tinha encontrado ninguém que o auxiliasse.
De repente, uma voz, suave e tranquila, pergunta-lhe: “Queres ficar curado? ”. É a voz de Jesus, daquele que tudo recebeu do Pai para salvação da humanidade. Ao doce rumor daquelas palavras, ele se volta, pois não fizera nenhuma súplica, nenhum pedido. A bondade de Jesus derramava luz sobre todo o ambiente; então, invadido por uma alegre esperança, com voz trêmula, ele responde: “Não tenho quem me jogue na piscina, quando a água é agitada; ao chegar, outro já desceu antes de mim”. No horizonte, brilha um sol ardente, em seu corpo combalido, já cansado e fatigado pela longa espera, o enfermo ouve as palavras enternecedoras e misericordiosas do Mestre: “Levanta-te, toma o teu leito e anda! ”. De início, trôpego; aos poucos, seus membros se revigoram, e ele, obediente, levanta-se: estava curado!
Bela é a descrição feita por S. João Crisóstomo: “Uma multidão de enfermos jazia ao lado da piscina, mas a enfermidade deles os impedia de entrar na água para serem curados. Em nossos dias, todos podem se aproximar, e não podemos dizer: ‘outro já desceu antes de mim’; como um raio de sol não diminui se muitos gozam de sua luz, assim também, mesmo se o mundo todo aí estivesse a graça jamais se esgotaria”. Momentos antes, Jesus tinha dito ao paralítico de Cafarnaum: “Levanta-te, toma o teu leito e anda! ”. É o cumprimento do anúncio profético de Isaías sobre o tempo messiânico: “Os coxos andam; firmam-se os joelhos debilitados” (35,3).
O milagre deu-se na piscina de Betesda, que significa “casa de misericórdia”. Aliás, o verbo levantar-se, em grego, egeiro, expressa a ordem dada por Jesus ao paralítico, e é também utilizado, pouco adiante (v.21), para significar o poder de dar vida aos mortos. As duas cenas falam da ação misericordiosa de Jesus, que, além de devolver a vida ou a saúde ao corpo e à alma, reintegra o curado ou o ressuscitado na comunidade. A reação dos chefes do povo e dos fariseus segue-se imediatamente. Não reconhecendo em Jesus a proximidade salvadora de Deus, eles se fixam no fato de Ele ter realizado essas obras no dia de sábado, observado, rigorosamente, por eles segundo seu sistema de prescrições rituais, que eclipsava seu sentido original: dia de repouso, de festa e de encontro com Deus misericordioso e libertador.
Assim, sem romper com os princípios do Antigo Testamento, Jesus abre outra praxe de vida marcada pelo amor e pela liberdade interior na comunhão com o Pai. Ao dizer ao que era paralítico: “Levanta-te, toma teu leito e anda! ”, Ele se revela o legislador soberanamente livre.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm