Homilias de Dom Fernando Antônio Figueiredo
Jo 13,1-15 - Última Ceia
Ao cair da tarde, Jesus entrou na cidade de Jerusalém, pedindo a Pedro e João que fossem à casa de “alguém” e lhe dissessem que o Mestre ia celebrar lá a Páscoa com os seus discípulos. Quando Jesus chega, tudo já está preparado: no andar de cima, uma ampla sala, pronta, varrida e sobre a mesa alguns pratos com o pão ázimo, as jarras de vinho e as taças. Na hora da ceia, segundo a tradição, todos se estendem sobre pequenos leitos baixos: João ao lado do Mestre, Pedro na frente e Judas não muito distante. Através de hinos e orações, aquele momento sagrado foi perpetuado pela Igreja nascente e será motivo de inspiração para grandes mestres como Giotto e Leonardo da Vinci.
A páscoa era celebrada por família; Jesus a celebra com seus discípulos. Durante a ceia, Ele anuncia solenemente que o “tempo” está próximo e, com o coração palpitante de amor, faz o seu último e mais íntimo discurso, que o Evangelista introduz com as palavras: “Tendo amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim”. A expressão “até o fim” significa não apenas o último momento, mas “a plenitude” de sua vida terrena, prenúncio do forte grito, dado por Ele, no alto da cruz: “Tudo está consumado”.
De modo conciso nos gestos e palavras, a última Ceia é apresentada como refeição pascal. Inicialmente, de acordo com o rito prescrito, Jesus lava simbolicamente as mãos, a seguir, para surpresa de todos, levanta-se, cinge-se com uma toalha e põe-se a lavar os pés dos Apóstolos, gesto geralmente confiado a um servo ou escravo. Ao vê-lo aos seus pés, os Apóstolos ficam espantados e, mesmo, constrangidos, como no caso de Pedro, que protesta veementemente: “Senhor, tu, lavar-me os pés?”. S. Agostinho comenta que “esse acontecimento é algo mais para ser refletido do que para ser dito”, como é o caso da resposta de Jesus a Pedro: “Se não te lavar, não terás parte comigo”. Ao compreender que além de ser excluído da sua missão evangelizadora, ele seria igualmente afastado da convivência com o Mestre, o ardoroso Pedro oferece não só os pés, mas também suas mãos e cabeça para serem lavados. Diante desse gesto impetuoso, Jesus conclui: “Aquele que já se lavou, não tem necessidade de lavar senão os pés, pois todo o resto está limpo”. Aí, na própria refeição, Jesus está em meio aos discípulos como aquele que serve: a última ceia define sua missão como serviço de amor.
Retornando à ceia, Jesus tomou em suas mãos um pão ázimo, levantou os olhos ao céu, dizendo: “Tomai, isto é o meu corpo”; e logo a seguir: “Este é o cálice do meu sangue”. Na linguagem bíblica, ao dizer: “Isto é”, Jesus exprime um memorial, que atua e torna presente o que recorda; sob as espécies do pão e do vinho, sua presença é perpetuada entre os discípulos. Por conseguinte, aos que recebem a Eucaristia, supremo ato de amor e de doação, dom de si mesmo, na perspectiva de sua morte, em favor da humanidade toda inteira, impõe-se lavar os pés de seus irmãos, prestando um serviço caridoso a todos, particularmente, aos mais pobres.
Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm