Homilias de Dom Fernando Antônio Figueiredo
Mc 16,15-20 – Ide por todo o mundo
Nesta passagem, o Evangelista resume diferentes acontecimentos, sem dar indicações precisas de tempo ou lugar. Após enviar os Apóstolos a todas as nações para anunciar o Evangelho da salvação, o vencedor da morte, Jesus, “foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus”, donde virá no tempo da restauração de todas as coisas. Todos os que ouvissem a sua Palavra e a acolhessem com fé, seriam batizados e incorporados a Ele como membros de sua Igreja.
Jesus, em sua Encarnação, assumiu nossa humanidade, sem que sua divindade fosse diminuída e, em sua Ascensão para junto do Pai, Ele leva consigo a nossa natureza humana, incluindo-a em sua divindade. Por conseguinte, sua Ascensão, testemunhada pelos Apóstolos, abrange a inteira realidade do homem e da criação, pois em Jesus temos um magnífico programa de realização, nunca ficaremos presos aos erros e pecados, já perdoados pelo Senhor, mas estaremos sempre em busca da experiência bem aventurada dos bens do amor de Deus, que está, eternamente, se revelando a nós: é o itinerário do nosso retorno ao Pai, realidade sublime, que nos torna criaturas novas e partícipes da vida incorruptível e imortal de Deus.
A vida nesta terra é apenas um caminho, é uma passagem para a meta definitiva, a união com Deus. Os termos “deificar-se” e “divinizar-se”, utilizados pelos autores antigos, significam o processo de participação na intimidade da vida de Deus, e postulam a constante superação do homem, imagem de Deus, que, segundo Orígenes, “foi criado para acolher em si a glória de Deus”. Este é o verdadeiro fim e destino do homem.
Na verdade, a Ressurreição de Jesus traz esperança ao coração dos Apóstolos, que voltam a se reagruparem, recebendo do Ressuscitado a missão de “fazer de todos os povos seus discípulos”, o que compreende: batizá-los e ensinar-lhes a sua mensagem. Os que a acolhem e a vivem obtêm a remissão dos pecados e são reconciliados com o Pai, pois, comenta S. Jerônimo, “a Jesus, foi dado todo poder, de modo que aquele que primeiro reinava no céu, reine também na terra por meio da fé dos seus discípulos”.
Aconteça o que acontecer, Ele estará sempre com eles, na solidariedade com os pobres, no verdadeiro perdão, na profundidade das orações, no trabalho e nas perseguições. Ninguém está só, tampouco excluído da comunhão eterna, pois no silêncio do seu amor, Ele aguarda “que o mundo inteiro faça parte da vida divina e se torne tudo o que Deus é menos a identidade de natureza”. (S. Máximo, o Confessor).
Dom Fernando Antônio Figueiredo, ofm