Presença do Papa será uma bênção para o país, diz sacerdote copta
A influência da presença do Papa "em meio a nós na terra do Egito, visitada pela Sagrada Família, certamente dará seu fruto" - REUTERS
Cairo – No dia que precede sua 18ª Viagem Apostólica, o Papa publicou a seguinte mensagem em seu tweet: “Amanhã irei como peregrino da paz ao Egito da paz”, frase que ilustra o logotipo da visita.
Ainda na quarta-feira, o tweet de Francisco falava da promoção da “amizade e o respeito entre homens e mulheres de diversas tradições religiosas para construir um mundo de paz”.
Mas, quais são as esperanças para esta viagem apostólica? Quem responde à RV é o sacerdote copta Garas Boulos Garas Bishay, Pároco da Igreja Maria Virgem Rainha da Paz, de Sharm el Sheik:
“As esperanças são imensas. A visita do Vigário de Cristo no Egito nos dá arrepios no corpo e no coração”.
RV: Um Egito que está sofrendo muito e passa por muitas tensões. Que bem poderá fazer ao Egito ter um exemplo de diálogo, em tão alto nível?
“Em nível político, o encontro com o Presidente é um bom impulso contra a violência e o terrorismo. Em um segundo nível, o encontro com o Grão Imame de Al-Azhar é um fato incrivelmente forte: demonstrar ao mundo que as religiões não estão em conflito, antes pelo contrário, podem dialogar e podem formar um plano de diálogo e de paz para todo o mundo. Em nível, depois, da unidade da Igreja, o encontro do Papa de Roma com o Papa copta-ortodoxo terá uma grandíssima influência em nível cristão. Também a chegada do Patriarca de Constantinopla acrescentará um elemento de ecumenismo internacional: os líderes das Igrejas colocam-se lado a lado para dialogar pela união da Igreja. E em nível da Igreja Católica, o quarto nível: a Igreja Católica no Egito está passando por um momento muito delicado e terá uma forte injeção de oxigênio nas veias que poderá mover as velas da Igreja rumo ao horizonte do diálogo inter-religioso e interconfessional”.
RV: O senhor é pároco em Sharm el Sheik, uma região do Egito que é meta turística. Como vive a população nesta área, visto a situação tão difícil no Egito?
“Para dizer a verdade, sofremos muito até hoje com a queda do avião russo. O país não retomou o fôlego, tantos jovens que trabalhavam nos hotéis foram mandados embora. Dezenas de milhares tiveram que ir para casa, e ao invés de ajudar as famílias, tornaram-se um peso para elas. Assim, a região sofre muito pela falta do turismo, sobretudo o russo e italiano. Espera-se sempre o melhor, mas cada vez que damos um passo em frente, nos surpreende um ato terrorista como aquele em Santa Catarina, que nos faz dar dez passos para trás”.
RV: Na sua opinião, por que o objetivo do terrorismo é o de isolar o Egito do resto do mundo, de isolá-lo também do turismo?
“O Egito foi contra um plano internacional que foi preparado para a região do Oriente Médio. Com a revolução do povo egípcio – 32 milhões de pessoas nas ruas contra a Irmandade Muçulmana, contra Morsi – dissemos “não” a este plano. As forças internacionais não puderam dizer nada ou fazer nada, mas o plano delas custou tanto e estão ainda procurando realiza-lo de outras maneiras”.
RV: Neste sentido, a Conferência Internacional da Paz da qual tomará parte o Papa Francisco na Universidade de Al-Azhar, no Cairo, poderia ser uma resposta válida para relançar o Egito no caminho do diálogo e da reconciliação?
“Certamente, a presença do Santo Padre, que é realmente considerado um homem santo, um homem de paz, um homem dos pobres, dos marginalizados, dos prisioneiros, das pessoas sem casa, será uma bênção: a influência desta sua presença em meio a nós na terra do Egito, visitada pela Sagrada Família, certamente dará seu fruto. Temos grande esperança”.