“Em nome de Deus, chega de repressão!”, clama presidente do Episcopado Venezuelano
Jovens se manifestam nas ruas da Venezuela / Foto: Facebook de Voluntad Popular
CARACAS - O presidente da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), Dom Diego Padrón, exigiu que o governo de Nicolás Maduro acabe com a repressão dos protestos em todo o país, que provocou a morte de cerca de 43 pessoas, a última delas um adolescente de 15 anos.
Dom Diego Padrón fez este apelo durante a abertura da 43ª Assembleia Extraordinária. “O caráter extraordinário desta Assembleia, motivada pela necessidade de ouvir a voz de Deus e discernir a Sua vontade em meio às circunstâncias atuais do país, destaca, por um lado, a extrema gravidade da situação e, por outro, os desafios que esta apresenta aos bispos”, assinalou.
Em seu discurso, o Prelado afirmou que os bispos venezuelanos “denunciamos o duo fatal ‘repressão-morte’ que tornou dolorosa e triste a realidade nacional” e “reiteramos um ‘não’ retumbante às mortes violentas, fruto maligno do desprezo à vida, do ódio de Caim a Abel e do rechaço do mandamento divino. Não matarás!”.
Por isso, “em nome de Deus, repetimos ‘chega’, porque a morte de nossos jovens em busca do futuro e da liberdade não são mortes naturais, mas provocadas e injustas. São assassinatos dos irmãos mais novos! Irmãos”. “A repressão é, no fundo, um sinal de fraqueza e desconfiança nos métodos democráticos, a negação do humanismo, da tentativa do direito de minar a convivência humana e a confissão da incapacidade de governar”, expressou.
O Purpurado recordou que os bispos, como cidadãos venezuelanos, têm “o direito e o dever cívico e moral de intervir em todos os assuntos relacionados à nação, sem outras limitações do que as assinaladas pela ética e pelas leis”.
“Somos responsavelmente imparciais, mas de jeito nenhum neutros”, assinalou o Prelado, que reafirmou a comunhão dos bispos com o Papa Francisco e a unidade do Episcopado.
Advertiu que os bispos se sentem desafiados pelos “diversos sinais de morte presentes no discurso oficialista ameaçador, os gestos agressivos, a imagem militarista, a mentalidade de dominação e conquista, os atos de arrogância, o comportamento arbitrário, as restrições progressivas da liberdade”, a corrupção, a destruição econômica, “a desgraça da educação, a impunidade contra o crime” e a “fuga dos cidadãos e das famílias”.
A situação na Venezuela causada pelo “atual sistema político governante é razoavelmente injustificável, eticamente ilegítima e moralmente intolerável”, advertiu. “Este não é um julgamento legal nem político, mas moral e espiritual”, expressou o Bispo, que pediu “uma conversão sincera dos pensamentos e dos corações que dê frutos de renovação, justiça e reconciliação”.
“É o momento de fazer um exame de consciência, de uma insurgência espiritual e moral dos líderes e dos cidadãos que promovam dentro de cada pessoa uma mudança radical da situação do país. O legítimo protesto na rua deve ser pacífico e deve respeitar as pessoas e as propriedades, e um sinal de resistência ética e civil”, assinalou.
O Presidente CEV recordou ainda que na recente assembleia do CELAM, realizada em El Salvador, as 22 Conferências Episcopais presentes emitiram “uma declaração sobre a situação da Venezuela em apoio e solidariedade aos nossos cidadãos e à Igreja”. No texto, os bispos do continente expressaram a sua preocupação pelo “sofrimento que atingiu o povo venezuelano, até chegar a padecer uma verdadeira crise humanitária”.
Por isso, convocaram as dioceses da América Latina e do Caribe “a lançar iniciativas de caridade para com os irmãos venezuelanos” e acolher fraternalmente os migrantes da Venezuela. Além disso, “fazemos um apelo às organizações internacionais de ajuda humanitária a fim de que enviem as suas ações e os seus recursos de forma prioritária à Venezuela”.
O Purpurado finalizou o seu discurso citando o comunicado da presidência da CEV de 17 de dezembro do ano passado, que convida “todos os líderes políticos, econômicos e sociais, de qualquer sinal e cor, a colocar-se ao lado dos cidadãos e a buscar, em sintonia com eles, soluções que beneficiem todos. Não é o momento de virar as costas ou tampar os ouvidos aos seus clamores”.
“Pedimos ao Governo nacional, especialmente ao Executivo, que de verdade escutem os clamores das pessoas e resolvam os gravíssimos problemas que causaram com medidas improvisadas e nocivas”, concluiu.
Por sua parte, na última quarta-feira, o Conselho de Segurança da ONU discutiu de maneira privada a crise venezuelana a pedido dos Estados Unidos.
O Secretário Geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou nesta quarta-feira, na França, que “está muito preocupado com a Venezuela”, tanto pela crise política como pelas “gravíssimas dificuldades econômicas e sociais”, e indicou que está em contato com vários mediadores para encontrar uma solução para esta crise.