Homilia Pentecostes Ano A
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Caros irmãos e irmãs, hoje nos reunimos para a celebração da Solenidade de Pentecostes. A Liturgia de hoje nos faz participar das maravilhas realizadas por Deus no início da vida da Igreja. Dela, nós podemos dizer que é desejada pelo Pai, é uma criatura do Filho e vivificada pelo Espírito Santo, a Trindade Augusta e Santa.
A Eucaristia por nós hoje celebrada, pela ação do Espírito nos coloca em contato com nosso início para onde devemos sempre retornar, a fim de não deixarmos de ser aquilo que Deus quer que sejamos, sob pena de criarmos uma ilusão de Igreja que não é aquela por quem Cristo derramou o seu Sangue. Corremos o risco de construir Babel e não a Igreja; corremos o risco de prostituir a Casta Esposa de Cristo e, o que é pior, atribuirmos a Deus e ao Espírito Santo aquilo que é fruto tão somente da presunção humana.
Mas o que nos diz hoje, esta solenidade. Gostaria de enumerá-las sinteticamente:
A Igreja é da vontade e iniciativa divina. Ninguém pode criar a sua igrejola. O que resulta disso não é Igreja, mas seita;
A Igreja é aberta ao mundo inteiro. É Católica; fala todas as línguas. Deve anunciar a Boa Nova a todos os povos. É o sentido do dom do Espírito derramado em Pentecostes. É o Espírito quem a anima e lhe dá vida e movimento, ninguém mais! Muito menos criaturas humanas marcadas pelo pecado;
A Igreja, animada pelo Espírito Santo, é chamada a ser a portadora da Salvação de Deus a todos os povos, sendo ela mesma a transparência desta salvação, pela vivência da comunhão e da unidade.
Como cristãos somos chamados a deixar Deus Espírito Santo agir em nós, pois é por Ele que o Senhor Jesus, o Crucificado permanece conosco, uma vez que é missão do Espírito nos levar à Verdade plena que é Cristo Jesus.
São Paulo alude a isso na segunda leitura corrigindo o vícios do habitantes de Corinto que, porque alguns possuíam dons extraordinários se agarravam a isso e não queriam saber de Jesus Cristo Crucificado, eram mesmo capazes de dizer: anátema seja Jesus, excomungado seja!
Achavam que tinham dons do Espírito de Cristo e não se deixavam guiar pelo Espírito que é do Pai e do Filho e que não fala de Si, mas nos une ao Filho para termos acesso ao Pai.
Por isso, nós temos que compreender o significado da solenidade de hoje. A ação do Espírito no dia de Pentecostes é para indicar-nos tão somente a natureza católica da Igreja que confessamos no Credo. Isto é, o que importa aqui não são as línguas, mas o que isto significa.
O dom de pentecostes se chama xenoglassia que significa falar língua estrangeira e conhecida, nem sempre por aquele que fala, mas identificável por quem a conhece. Outra coisa é o dom da glossolalia, que é o dom de falar língua nenhuma, pois isto significa articulação de sons que não se entendem. E é equivocada a atribuição disto aos anjos. O modo dos Anjos se comunicarem entre si, com Deus e conosco é pela intuição. Sendo puros espíritos não tem necessidade da linguagem humana. Suas mensagens porém, como temos na SE, são postas na nossa língua para que entendamos, só isso.
Ora se ação do Espírito é nos levar à comunhão, isto se dá pela mesma fé, pelo mesmo estilo de vida pelo mesmo culto. O que se diz de outro modo: unidade de fé, de moral e de culto. Por isso temos o Culto a Deus que é de toda a Igreja, confessamos todos a mesma fé, estamos chamados à santidade de vida, de acordo com o nosso estado: sacerdotal, religioso leigo ou como casados. Todos somos chamados a dar testemunho do Senhor no modo de vida que o Senhor nos reservou.
“Todos bebemos de um único Espírito”, nos diz São Paulo. Ora, isto quer dizer que existe uma finalidade para a variedade de dons do Espírito: conduzir-nos à unidade e comunhão do Corpo de Cristo, Nossa Mãe Igreja e à qual somos chamados a corresponder no amor com pensamentos, palavras e obras, como à uma boa e Santa Mãe, que nos gerou para Deus no Batismo.
Por isto, hoje o Senhor concede à Igreja, ao conceder o Espírito o dom de perdoar os pecados e conceder a paz do Senhor. Paz que é uma renúncia à nossa presunção e a assunção dos critérios de Deus, ou ainda, segundo a profecia de Ez 36: deixar que Deus transforme nosso coração de pedra em coração de carne para podermos obedecer a suas palavras. Sem a ação do Espírito Santo em nós, nós não somos capazes de manter nada em nós de inocente ou puro... sequer somos capazes de receber o perdão de Deus. Este é o único pecado que não tem perdão pelo simples fato de ser por si, um fechamento ao Amor de Deus que é o Espírito Santo.
E nesta Solenidade de Pentecostes invoco sobre todos o Espírito Santo de Deus, citando um autor anônimo do século VI:
Se por acaso alguém nos disser: “Recebeste o Espírito Santo; por que não falas em todas as línguas?" devemos responder: "Eu falo em todas as línguas. Porque sou membro do Corpo de Cristo, isto é, da sua Igreja, que se exprime em todas as línguas. Que outra coisa quis Deus significar pela presença do Espírito Santo, a não ser que sua Igreja haveria de falar em todas as línguas?” (Sermo 8,1-3: PL 65,743-744).
Por isso, ele continua: “É a vós, homens de todas as nações, que sois a Igreja de Cristo, os membros de Cristo, o corpo de Cristo, a esposa de Cristo, é a vós que o Apóstolo dirige estas palavras: Suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos em guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz (Ef 4,2-3). Reparai como, ao lembrar o preceito de nos suportarmos uns aos outros, falou-nos do amor, e quando se referiu à esperança da unidade, pôs em evidência o vínculo da paz.
Esta é a casa de Deus, edificada com pedras vivas. Nela o Eterno Pai gosta de morar; nela seus olhos jamais devem ser ofendidos pelo triste espetáculo da divisão entre seus filhos”.
Busquemos, pois, sempre, guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz que o Senhor nos comunica juntamente com Seu Espírito.
Só assim alcançaremos a Salvação, só assim falaremos todas as línguas, só assim estaremos na Igreja querida pelo Senhor.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Autor: Prof. Pe. Mestre Samuel Pereira Viana Nascido em Duque de Caxias (RJ) e Ordenado Presbítero na Diocese de Santo Amaro. Mestre em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.Pároco: Paróquia São José (2008- atualmente).