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Homilia: 27.08.2017 - 21 Domingo Comum



Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!


Irmãos e irmãs, hoje novamente o Senhor nos coloca diante da sua sempre atuante Providência. Mesmo que pareça que dorme o Senhor, Ele sempre vigia; “vigia como o guarda de Israel” (Sl 120). Este é um Sl dos chamados de peregrinação, cantados no caminho para Jerusalém, a Cidade do Senhor.


Desde a I leitura, de Is, Deus se mostra conduzindo o seu Povo e intervindo em seu destino, sem com isso, retirar do Homem sua liberdade e sem ferir o seu Plano de Salvação. Eliacim receberá o lugar de Sobna, pois este não havia desempenhado bem a função de guardião do Palácio do Rei Ezequias, pois tinha construído para si um mausoléu na rocha. Desperdiçou o dinheiro num momento de grande dificuldade financeira para o povo. Sobna o substituirá, mas também acabará mal, apesar das esperanças de Isaías.


Tudo isto nos leva ao Evangelho onde, também a Pedro é dado o “poder das chaves”. Esta expressão é rica de significados, mas para o que hoje nos interessa, o importante é considerar o episódio de Sobna e Eliacim. Os dois foram maus administradores do palácio do Rei, pois se entregaram ao próprios interesses desprezando a Deus, ao Rei e ao povo a quem deviam servir, ao contrário de Pedro que receberá de Deus Pai a Revelação e a força para cumprir sua missão, apesar da sua fraqueza...


Quando São Paulo canta a “profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus” e os seus caminhos, o que está nos recordando é que somos todos chamados a nunca nos desviarmos do Caminho do Senhor, pois mesmo que sejamos favorecidos, “na verdade, tudo é dele, por ele, e para ele. A ele, a glória para sempre.”


Ora, tudo, tudo quanto o Senhor nos concede, sejam postos de governo ou de serviço, somos chamados a desempenhar como serviço dirigido a Ele e à sua glória. E a sua glória, nunca é demais lembrar, “é que o homem viva” como dizia Santo Irineu de Lyon, mas que “a vida do homem é a visão de Deus”! (Lib. 4,20,5-7:Sch 100, 640-642.644-648 [Séc. II].


Deste modo, tudo deve ser realizado tendo isto como meta: seja a glória de Deus, como a sua visão por nós, pois nisto está a nossa vida!


O texto do Evangelho que nos narra a profissão de fé de Pedro sobre o Senhor como o Messias, o Filho do Deus Vivo pode também ser encarado por nós como esta dupla missão, que no fim, se tornam uma só: o encontro e a participação na vida feliz de Deus, o Pai. Para isto, Pedro recebe o poder das chaves, e tudo o que isto significa: poder de julgar; atar e desatar; o poder de ensinar com autoridade; o poder de governar; de decidir com autoridade quem entra e quem sai, de perdoar e não perdoar... tem uma só finalidade: tendo origem em Deus, o Pai, dada por Cristo, o Filho a Pedro é sob sua orientação sempre, isto é, deve sempre ser exercido como quer Deus e não segundo Pedro. Aquele que detém as chaves tem sempre a responsabilidade primeira de introduzir aos que batem, segundo as regras de acesso.


Observem que só depois do Senhor ter ouvido as opiniões das pessoas é que quer saber a deles, pois seriam eles os responsáveis para introduzir, aos que batessem, ao seu convívio. Todavia, só depois da verdadeira identidade do Senhor ser afirmada por Pedro, em nome dos Doze e da Igreja é que ele recebe a incumbência, o poder das chaves.


Já Agostinho dizia a respeito desta passagem, explicando a relação de Pedro com a pedra sobre a qual o Senhor edifica a sua Igreja: Pedro de pedra, como cristão, de Cristo. Qual pois a pedra sobre a qual Deus edifica a Igreja e qual a chave para nela entrar? Qual a porta?


A pedra é o próprio Senhor e Deus, Jesus Cristo Messias; a chave a ser guardada que abre acesso a Deus é a fé nEle como tal e a porta, novamente, é o próprio Senhor. Ninguém vai ao Pai, senão por Ele, como nos disse.


O exercício do poder das chaves, se vivido sem Deus, não cumpre sua finalidade e o responsável é logo substituído, como se deu com Sobna e acaba mal como com Eliacin. Porém, quando exercido segundo a vontade de Deus, como serviço que é, por Ele sustentado, o que se tem é a firmeza mesma do serviço e o gozo das delícias do Palácio Real que, no caso, é a vida eterna. Recordemos que o Senhor nos diz em outra passagem: “Ora, a vida eterna consiste em que conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste" (Jo 17, 3).


Este é o real poder das chaves confiado a Pedro e à Igreja: a todos levar a Jesus Cristo e ao Pai, guiados pelo Espírito Santo.


Caros irmãos e irmãs, procuremos responder também nós ao Senhor, pois Ele se interessa pela nossa resposta: “E vós, quem dizeis que eu sou? Não O deixemos esperando... Disso depende nossa Salvação. Não só a resposta, mas o viver segundo o que respondemos.


Lembremos mais uma vez o que nos disse Paulo: “Como são inescrutáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos!” Por mais que nos possa parecer difícil compreender a loucura do Amor de Deus em se fazer um de nós e nos salvar pela Paixão, e escolher instrumentos inadequados, que se deixem conduzir por Ele, acolhamos. O Amor não se compreende, se contempla; o Amor não domina, Se oferece; o Amor não se compra, é um dom; o Amor não se exige, se recebe...


Esta é a vocação de Pedro, dos demais Apóstolos como também de todos os fiéis leigos. Vivamos e amemos, procurando exercer o que o Senhor nos pede visando nossa salvação, que é graça!, e a dos outros para podermos entrar na Sua presença e gozar das suas delícias...


Autor: Prof. Pe. Mestre Samuel Pereira Viana Nascido em Duque de Caxias (RJ) e Ordenado Presbítero na Diocese de Santo Amaro. Mestre em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Pároco: Paróquia São José (2008- atualmente)

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