Dois anos da tragédia do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG)
Foto da capa: Agência Brasil
Neste domingo, 5 de novembro, completam-se dois anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). O desastre ambiental, sem precedentes no Brasil, deixou 19 mortos e os rejeitos da barragem da Mineradora Samarco atingiram mais de 40 cidades em Minas Gerais e no Espírito Santo. Até agora, as multas ainda não foram pagas, as famílias afetadas não foram devidamente atendidas e sequer um plano de manejo foi implementado. A tragédia também é responsável pela poluição do Rio Doce e dos seus afluentes.
Dom Leonardo Steiner, secretário Geral da CNBB, concedeu breve entrevista sobre tema.
Dois anos se passaram e continuam pendentes tantas providências que são necessárias para remediar a situação criada pelo desastre da barragem de Fundão, em Mariana (MG). O que o senhor entende que é preciso ser feito neste momento?
Rememorar, não esquecer! Recordar, não esquecer! A data é a possibilidade de mostrar ao país, à sociedade brasileira as consequências de um descaso. Ela precisa ser lembrada pelo Brasil como expressão do descaso pelo cuidado com a nossa Casa Comum: meio ambiente, a comunidade, a família, as pessoas. Um depósito de rejeitos de uma mineradora precisa ter vigilância constante e sérias medidas de prevenção de desastres.
O que aconteceu em Mariana não pode ser esquecido. Ainda que se tenha realizado alguma coisa por parte das empresas determinadas pela Justiça, as investigações realizadas nestes últimos dois anos ainda não deram uma resposta condizente com o tamanho da agressão. O povo região, o Brasil espera da justiça e das empresas, assumam as responsabilidades pelo acidente e a devida e efetiva reparação.
Notícias recentes nos dão conta que ao menos duas frentes de trabalho precisam ser vivamente acompanhadas pela sociedade: a atenção para com as famílias atingidas e a despoluição dos mananciais que formam o rio Doce. As chuvas que estão chegando e são tão necessárias para nossa vida podem, por exemplo, levar a um agravamento da poluição uma vez que o rejeito que se encontra nas margens dos rios, pode ser levado para o leito do rio pela força das enxurradas. Além de questões que necessitam de explicações técnicas mais claras, está em jogo a vida das pessoas e das comunidades. Elas devem ser amplamente consideradas nos debates, nos projetos e na recordação desse segundo aniversário do chamado desastre de Mariana.
Uma declaração assinada pelos das dioceses da Bacia Hidrográfica do Rio Doce será apresentada na celebração do domingo que marca os dois anos do acontecimento. Quais são as maiores preocupações do episcopado neste momento?
Em nome da Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, nossa solidariedade a dom Geraldo Lyrio e os irmãos bispos cujas comunidades foram atingidas pela tragédia. Sabemos como os pastores carregam no coração as legítimas preocupações do rebanho que lhes foram confiados. Uma palavra dos bispos, neste momento, deve merecer atenção e acolhimento de todos para que todos possam se aprofundar sobre a situação atual com informações seguras acompanhadas de orientações importantes para as lideranças e as comunidades.
Desde a ocorrência da tragédia, a Arquidiocese de Mariana tem-se colocado ao lado dos atingidos, fazendo-se presente em suas vidas no acompanhamento espiritual, no atendimento pastoral, nas celebrações religiosas e também na ajuda no discernimento das decisões e encaminhamentos, favorecendo sua organização, defendendo seus direitos e sua dignidade. Esse é o testemunho que recebemos de dom Geraldo e dos outros irmãos bispos. Permanecemos unidos a ele e aos bispos da região com nossa prece, nossa amizade e renovamos, junto as comunidades de todo o Brasil, o apelo para que a as providências justas sejam urgentemente tomadas em favor das famílias atingidas, da segurança ambiental e do cuidado com a nossa Casa Comum. Seria muito bom que todas as nossas comunidades nas celebrações deste final de semana elevassem a Deus uma prece. A oração como sinal da solidariedade, como pedido de justiça, como expressão da nossa esperança alicerçada na certeza de que Deus não nos abandona.