Homilia: Missa 12.11.2017 - 32 Domingo Comum
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Caros irmãos e irmãs, a vida humana é como um piscar de olhos de Deus; se assemelha ao lírio das matas que hoje é belo, mas no prazo de horas se desvanece... Mesmo que no nosso caso, isto possa parecer um bom tempo a ser gozado, no entanto, neste mundo, tem sempre fim... Toda a nossa vida está segura nas mãos de Deus, no entanto; mãos amorosas que tudo sustenta. No livro do Gn, quando Deus cria todas as coisas, sempre se diz ao fim, que Ele se regozija vendo que “era bom”; quando cria o Homem, cume da obra criadora lê-se: “e viu que era muito bom” (cfr. Gn 1, 1-31).
Contemplando a criação e o Homem, o Salmista exclama maravilhado: “quid est homo, quod memor es eius, aut filius hominis, quoniam visitas eum?” (Sl 8, 5) [Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles?”
Caros irmãos, se nós valemos mais que os pardais, que os lírios dos campos, não podemos, pois, não nos enchermos da maravilha do Salmista. Nossa vida é preciosa aos olhos de Deus. Não há, portanto, ocasião para nos entregarmos aos lamentos e ao desespero dos que não crêem. Lamentos porque experimentam que a vida, dia a dia lhes foge das mãos e que não a podem estender sem fim; desespero, pois, colocando suas esperanças somente aqui neste mundo, procuram disfarçar, tentando saciar a sede de felicidade com a satisfação dos seus desejos que são incapazes disto...
Liev Tostoi, escritor russo, escreveu, depois de uma grande crise de fé, um livro chamado “Uma Confissão”, lá ele diz: “Minha vida parou. Eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, sem comer, sem beber, sem dormir; mas não existia vida, porque não existiam desejos cuja satisfação eu considerasse razoável. Se eu desejava algo, sabia de antemão que, satisfizesse ou não meu desejo, aquilo não daria em nada.” É uma afirmação sincera de quem crê e sabe da incapacidade desta vida de saciar a sede de Vida que só Deus pode pôr fim...
Os textos da SE que ouvimos hoje nas leituras, nos colocam diante deste drama e da sua solução, se tivermos boa vontade. Qual o drama? Já disse antes: amamos a vida e não a morte! Vida e morte, porém, que experimentamos todos os dias, quando então no eterno dia, somente Vida haverá. Até lá, somos chamados a conviver e a escolher de verdade o que queremos. Lembremos o que o Senhor nos disse: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á.” (Mt 16, 25).
Sim, a escolha é posta diante de nós. Entretanto, o escolher a vida, exige certas providências. A primeira delas é querer a Vida, não a morte; a segunda é perguntar-se constantemente o que se está escolhendo a cada dia. Como? Vigiando e buscando a Sabedoria; com que medida? Temos os Mandamentos!
Um perigo sempre nos espreita, como ladrão de rua. Ora, se “ficamos espertos” para não sermos pegos quando saímos de casa, esperando voltar, muito mais somos chamados a “ficar espertos”ou “ligados”, quando é a nossa relação com Deus que está em jogo. São Pedro nos alerta: “Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé” (1 Pd 5, 8-9).
Isto tudo, caros irmãos, é o manter as lâmpadas com óleo para que não estejam apagadas quando o Senhor vier para as Bodas Eternas, na Ressurreição no último dia.
Busquemos, portanto, não nos acomodarmos à mentalidade deste mundo, procurando ter “em nós, os mesmo sentimentos que em cristo Jesus” (Fl 2, 5) como nos ensina Paulo e o próprio Senhor: “Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas” (Mt 11, 29). Assim procedendo, seremos como o fino azeite que sabe sempre estar por cima, não importando a ordem em que seja colocado, se antes ou depois da água num copo. E o azeite é símbolo daquele Amor ao qual somos chamados; é símbolo do mesmo Senhor que mesmo Homem, não deixou de ser Deus, nos elevando; d’Ele que, mesmo morto, reina Vivo!
Se assim vivermos, as dificuldades desta vida, as lágrimas, os sofrimentos e o esforço em acudir os que necessitam, pela fidelidade ao Senhor e aos Mandamentos seus, não serão motivo de tristeza e lamentos, mas, mesmo as lágrimas derramadas, serão como um bálsamo a temperar a monotonia e um incentivo ao nosso amor por Ele, uma vez que sem a disposição para o sofrimento por quem se ama, amor não há.
Que São José, que dedicou-se integralmente à Virgem Esposa e ao Menino Jesus, interceda por nós para que possamos estar sempre prontos a ouvir e obedecer a Deus!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Autor: Prof. Pe. Mestre Samuel Pereira Viana Nascido em Duque de Caxias (RJ) e Ordenado Presbítero na Diocese de Santo Amaro. Mestre em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.