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HOMILIA NO XXXIII DOMINGO COMUM A - 2017 -


Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!



Irmãos e irmãs, estamos nos aproximando do fim do ano litúrgico e um novo, daqui a duas semanas, raiará. E é próprio destas datas um “fazer as contas” do ano que passou e um programar o que se vai iniciar. Hoje os textos que ouvimos, porém, tratam não da análise do que passou, nem de programar o que vai começar, mas trata-se de refletir sobre o modo como o estamos vivendo. E isto pode projetar-se tanto para o passado quanto para o futuro. Trata-se, portanto, do presente que estamos vivendo.


É pelo presente que devemos primar. Na verdade, já Santo Agostinho, refletindo sobre o tempo e a eternidade, já nos ensinou esta lição: o passado não nos pertence mais; o futuro ainda não se deu; o que temos portanto à nossa disposição é o presente somente. É ele que reflete o nosso passado e prepara o nosso futuro que, quando chegar, será o nosso presente então. O que não significa desprezo pelo passado, mas a aquisição do que pode nos ajudar no presente e a preparar o que virá.


Se as coisas estão assim, nós devemos nos colocar aos pés do Senhor e aprender d’Ele a bem viver o tempo que nos concede. Não ontem mais, não o amanhã, mas o hoje da nossa vida. Assumamos, pois a atitude do salmista que nos convida,: “Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não lhe fecheis o coração” (Sl 94). Sim, caros irmãos, não fechemos o coração.


Nosso coração significa, aqui, mais do que o órgão que bate em nosso peito. Significa aquela realidade profunda que somos nós; o centro onde nos recolhemos para tomar nossas decisões mais importantes. Hoje, com outra linguagem, diríamos “consciência”, mas ouvindo o Senhor, fiquemos com a linguagem da SE: não fechemos, portanto nosso coração, pois ouvimos o Senhor.


Pois bem, o que hoje o Senhor nos fala que nos ajuda a iluminar nosso presente e, ao mesmo tempo, nos auxilia considerar nosso passado e projetar o futuro?


Caros, irmãos, há um futuro que chamamos “absoluto”; é aquele que dizemos pertencer somente a Deus. E assim é. Mas existe também um futuro, que podemos dizer relativo, que nos pertence e que devemos construir. Relativo, não porque não tenha importância, mas que a tem, na medida em que se relaciona com o futuro absoluto pertencente a somente a Deus, mas que Ele nos quer comunicar, isto é a sua salvação eterna. Daqui, consideremos o que o Senhor nos diz hoje sobre os talentos que Ele nos concedeu para vivermos o presente, preparando o nosso futuro para recebermos em dom o seu, que é um eterno presente, a eternidade.


Ele os distribui desigualmente, não porque tenha preferências, mas porque respeita a capacidade de cada um. E a cada um dá segundo a sua capacidade. Ele não desperdiça seus dons. Somos nós que o fazemos por negligência.


Trata-se hoje, pois, desta nossa relação com os dons concedidos por Deus a cada um de nós. Não importa se cinco, dois ou um. Todos recebemos algum. E todos somos chamados a multiplicar para o dia que o Senhor deles nos pedir conta. E esses talentos são tanto naturais como sobrenaturais, isto é, aqueles que recebemos sem nosso esforço, merecimento ou segundo nossa frágil natureza. Além do mais, do que se orgulhar? “E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” (1Cor 4,7). Mesmo aqueles naturais nós só os desenvolvemos, mas não somos nós os seus criadores. Em tudo dependemos de Deus, mas ao mesmo tempo, o Senhor espera que correspondamos ao que Ele, na sua Bondade nos concedeu.


Assim, ouvimos na primeira leitura o elogio do homem temente a Deus e da mulher virtuosa, equiparada em dignidade com o homem e poderoso auxílio para ele. Este elogio que ouvimos da mulher pode ser aplicado a todos nós, pois a correspondência à graça de Deus é que nos faz virtuosos e nos auxilia multiplicar os talentos que nos favorece e aos nossos companheiros, isto é, todos os que caminham conosco para o Grande Dia da Vinda do Senhor.


Este Dia, nos diz São Paulo, recordando-nos a palavra do Senhor, não nos deve apanhar ociosos e preguiçosos, mas sempre ocupados com a nossa salvação. Tal ocupação é o nosso fiel empenho em rendermos graças e louvores a Deus, amando-O e ao próximo. E isto pelo culto litúrgico, sobretudo a participação na Santa Missa e nos demais Sacramentos. De fato, na Eucaristia nós damos graças a Deus e recebemos os auxílios necessários para o cumprimento fiel das nossas obrigações de cada dia.


É assim que nós nos preparamos para a vinda do Senhor. Ansiosos, não angustiados; desejosos, não desesperados! Sua presença real na Eucaristia nos sustenta para o grande encontro, pois assim nos ordenou: celebrarmos em sua memória, modo de torná-Lo presente e de entrarmos em comunhão com Ele e, por Ele, com nossos irmãos.


Sim, comunhão com Ele e com os irmãos. Isto é imprescindível para não desanimarmos quando o peso parecer insuportável. Pela participação na Igreja nos tornamos “Cirineus” uns dos outros e, mais ainda, Ele mesmo se torna o nosso, tornando nosso peso suave pelos auxílios da Graça.


Assim, caros irmãos, caminhando juntos e em comunhão com nosso Único Senhor, trabalhando diligentes e tementes a Deus nosso Pai, no Espírito Santo, como a mulher virtuosa, cumpramos todos o que o autor da Carta aos Hebreus nos recomenda: “Animai-vos uns aos outros dia após dia, enquanto ainda se disser ‘hoje’” (Hb 3, 13).


Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!


Autor: Prof. Pe. Mestre Samuel Pereira Viana Nascido em Duque de Caxias (RJ) e Ordenado Presbítero na Diocese de Santo Amaro. Mestre em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

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