Por que Nicolás Maduro vocifera contra a Cáritas da Venezuela?
Ele acusa a entidade caritativa católica de "conspiração" contra a "revolução" bolivariana.
O trabalho da Cáritas se reflete em resultados que, no mundo inteiro, falam por si. A entidade católica de caridade e assistência humanitária presta serviços que vão do atendimento médico e da distribuição gratuita de remédios até o resgate de vítimas de tráfico humano, passando por inúmeras iniciativas em áreas como educação, alimentação, acolhimento de órfãos, mães solteiras, refugiados…
Na Venezuela, porém, embora as ações da Cáritas sejam urgentíssimas em face da calamitosa falência e corrupção do Estado, o próprio governo de Nicolás Maduro, guiado por critérios exclusivamente ideológicos, não apenas não colabora com a entidade como ainda dedica esforços contínuos a prejudicar o seu trabalho.
Já noticiamos, há cerca de um ano, a denúncia de que o governo bolivariano teria chegado até mesmo a roubar remédios que a Cáritas distribuiria na Venezuela. Além desses casos extremos, a entidade católica sofre no país constantes sabotagens, que incluem desde bloqueio às suas conexões telefônicas e de internet até o autoritário confisco de seus computadores e outros instrumentos de trabalho cotidiano.
Apesar de tudo isso, a Cáritas é uma das poucas instituições que ainda conseguem apresentar números concretos em um país sem estatísticas confiáveis.
Não publicar estatísticas, de fato, é uma estratégia que o governo da Venezuela vem aplicando há anos. Manter ignorância ou dúvidas sobre o desastre social da nação é uma tentativa de silenciar a verdade que depõe contra o regime. Nesse contexto, os relatórios da Cáritas irritam os donos do poder no país e são um dos motivos que levaram Nicolás Maduro a arremeter contra a entidade em uma recente entrevista que concedeu ao programa Salvados, da rede espanhola La Sexta.
Quando o jornalista Jordi Evole perguntou sobre a fome dos venezuelanos e citou a confiabilidade da Cáritas, o sucessor de Hugo Chávez reagiu acusando a organização de “conspiração”. Textualmente, Nicolás Maduro afirmou:
“Pode ser que a Cáritas seja uma organização confiável na Espanha… Na Venezuela, tudo o que está vinculado à Igreja católica está contaminado, envenenado por uma visão contrarrevolucionária e de conspiração permanente”.
Para qualquer mortal no exterior, estas expressões podem surpreender. Para os venezuelanos, são o “pão nosso de cada dia” – até por falta de outro tipo de pão.
O assunto deixou o próprio Evole, de reputação nada conservadora, atônito e incrédulo. Ele retrucou:
“Mas é a Cáritas! Estamos falando de um organismo bastante confiável!”
O jornalista sabe, afinal de contas, que a Cáritas Espanha não somente conta com o respeito de milhões de espanhóis, inclusive ateus e seguidores de outras religiões, como também consegue enviar dinheiro para projetos humanitários em meio mundo.
Mas Maduro, sem qualquer argumento objetivo para desqualificar a entidade, se limitou à sua visão fanatizada do “nós contra eles”, própria dos regimes autoritários e paranoicos.
O presidente da Venezuela desacreditou igualmente a Transparência Internacional, que mede os índices de corrupção no país, e o Foro Penal Venezuelano, um grupo de competentes e jovens advogados e juristas que se dedicam, como voluntários, a defender os venezuelanos que, por se oporem ao governo muy democrático de Nicolás Maduro, se tornaram presos políticos.
Enquanto países em guerra agradecem à Cáritas pela sua ação humanitária inestimável, não se conhece nenhum governante que ataque dessa maneira, e sem qualquer embasamento real, a reputação e credibilidade da entidade católica. Só Nicolás Maduro.