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O SIGNIFICADO DE ESPERANÇA NA BÍBLIA


Foto: Pixabay


Falar de Esperança quando tudo parece andar no sentido contrário é como nadar contra a maré. Colocar esperança no coração e na vida das pessoas é afirmar que existe certa probabilidade de se concretizar um evento. Isto é, existe um grande desejo que aconteça, mas carece de total certeza. Esperar, é ter uma crença emocional na possibilidade de resultados positivos relacionados com eventos e circunstâncias da vida pessoal do povo de Deus. A esperança requer muita perseverança, neste sentido existe um sentimento que se aproxima muito aos atribuídos da fé, pois a Fé, a Esperança e a Caridade constituem as virtudes teologais.


NO ANTIGO TESTAMENTO

No Antigo Testamento o verbo raiz hebraico qa wáh do qual procedem vários termos que são traduzidos como Esperança tem o significado de esperar com firmeza Gn 49.18. Já o termo Yachal, é usado com o significado de permanecer confiante, isto é, aguardar pacientemente. A primeira ocorrência de Yachal está ligada a história de Noé Gn 8.10 “Esperou mais sete dias, e de novo soltou a pomba, para ver se a água havia diminuído sobre a superfície”. Mais adiante está a palavra Tiqvah, que vem do verbo hebraico Gavah e que tem o significado de “Olhar esperançosamente em uma direção particular ou esticar uma corda”, como foi a Esperança realizada na vida de Raabe em Js 2.18-21.


Portanto, é perfeitamente possível encontrar na Bíblia o sentido, o significado e o sentimento de Esperança desde Gênesis até o Apocalipse. A história bíblica, torna-se, o lugar onde o homem tem um encontro com Deus, que vai revelando aos poucos seus desígnios e o vai alimentando com a Esperança, como uma forma de antecipação, do que mais tarde será chamado, Reino de Deus. O Jardim do Éden começa descrevendo uma harmonia e um equilíbrio que irradiam paz em toda a criação, mas de repente surge um acidente de percurso (comer do fruto proibido), que provocou a ira de Deus contra os culpados e contra a terra que os sustentaria, mas por outro lado, nasce uma gota de esperança Gn 3.15-19 quando Deus profere uma sentença para os envolvidos de tal forma que não abandonou o pecador à sua miséria, e é aí, justamente, onde começa o plano de salvação.


Mais tarde, a humanidade inteira torna de novo a pecar, mas Deus projeta um novo plano para recriar o mundo, desta vez, não a partir do zero, e sim a partir de uma nova chance. Deus, escolheu Noé para construir uma arca e coloca nela toda a Esperança de um mundo novo. Quando Deus chamou Abraão para deixar sua terra e parentes, foi um chamado que traz uma nova Esperança. “Em teu nome serão abençoadas todas as famílias do mundo” Gn 12.3. Os quatrocentos anos de escravidão no Egito não conseguiram apagar totalmente essa chama de Esperança, ao contrário, sempre era alimentada pelo sonho de uma promessa, uma terra e seu Deus. Promessa que foi confirmada com braço forte de liberdade e independência sob o comando do soberano Senhor, através de Moisés.


Quando o povo estava de posse da terra prometida, esqueceram que a promessa continuava atual e se afastaram de Deus. A promessa não era só uma terra nova, mas também caminhar na proteção de Deus, não trair Ele com ídolos ou esquecer seus mandamentos. Quando isso acontece, Deus altera, mais uma vez, seu plano de salvação e envia os profetas com mensagens de juízo e de condenação. Os profetas realizam sua missão em meio de lutas, invasões, apostasia e idolatrias, anunciando cenas de vitória e salvação no horizonte futuro.


O povo de Israel colocou sua Esperança em uma terra Ex 3.17, e em uma descendência Gn 49; Ex 23.27-33; Lv 26.3-13. E durante séculos, estes são o objeto da Esperança de Israel. Por outro lado, Deus é também a realização e a própria segurança e garantia de que aquilo que se esperava se concretizaria, visto que Deus é fiel e zela pela sua palavra.


O povo de Israel, muitas vezes, esqueceu que um futuro feliz era um dom do Deus da aliança Dt 4.23. Isaías, duzentos anos antes do Exílio, proclamou: Consolai, consolai, o meu povo, diz o vosso Deus. Os profetas vieram para alimentar a Esperança do povo de Deus, o povo escolhido, portanto a Esperança de Israel, e mais tarde de todas as nações, é o próprio Deus Is 51,5, e o Seu Reino Sl 96 até Sl 99. Por outro lado, os profetas denunciam uma esperança ilusória e pede conversão Jr 8.15; 13.16. E quando o futuro parece fechar-se Ez 37.11-14, aparece no fundo um novo anúncio de Esperança pois, Deus infundirá seu Espírito para fazer reviver seu povo.


Mas é com o profeta Isaías que a Esperança renasce com a possibilidade de restabelecer o reino sob um único Rei, que nascerá de uma Jovem. Is 7.14 “Pois o Senhor, por sua conta, vos dará um sinal: Vede: a jovem está grávida e dará à luz um filho, e lhe dará o nome de Emanuel”. Esta profecia é completada em Mi 5.1 “Mas tu, Belém de Éfreta, pequena entre as aldeias de Judá, de ti tirei aquele que há de ser o chefe de Israel”. E também em Is 9.1-6 quando o povo caminhava em trevas, vê uma luz de Esperança que multiplica a alegria porque virá um grande “Conselheiro, Guerreiro divino, Chefe perpétuo e Príncipe da paz. Seu glorioso principado e a paz não terão fim no trono de Davi e em seu reino”, pois não há falta nem limitação nessa paz e justiça, que se dilatam no espaço e no tempo e que mais tarde com Jesus será a base do Reino de Deus.


NO NOVO TESTAMENTO

Assim como no Antigo, também no Novo Testamento encontram-se algumas palavras que expressão o sentido e o significado de Esperança. Elpis expressa expectativa do bem, portanto, é traduzido com o sentido de “permanecer confiante em uma promessa”; 1Ts 1.3: “Mencionando-vos em nossas súplicas a Deus nosso Pai, recordando vossa fé ativa, vosso amor solícito e vossa Esperança perseverante no Senhor Jesus Cristo”. Aqui a Esperança está diretamente relacionada à pessoa de Jesus, que vencendo a morte transcende o homem à eternidade. Pois, Cristo trouxe a certeza de vencer a vida e a morte para quem persevera Nele.


No Novo Testamento a Esperança torna-se a realização das promessas de Deus a Israel na pessoa de Jesus. Portanto, a missão de Jesus mostra que é na história e na revelação que Deus cumpre suas promessas de um Reino novo. Quando Paulo escreve sobre a fé e a Esperança de Abraão em Rm 4.1-25 mostra que ele, “esperou fiando-se contra toda Esperança, e assim se converteu no pai de muitos povos, segundo o que foi dito: assim será tua descendência... Não duvidou com desconfiança da promessa de Deus, mas, fortalecido pela fé, glorificou a Deus convencido de que podia cumprir o prometido”. Com isso reforça que o cumprimento das promessas feitas no Antigo Tentamento, foram cumpridas com a vinda de Jesus. E, portanto, Jesus torna-se a certeza da Esperança de salvação.


A partir da vinda de Jesus a Esperança é direcionada a Deus, que cumpriu as promessas a Abraão e que é o mesmo que ressuscitou Jesus dos mortos. Só que agora o que Deus faz em Cristo mostra para o homem uma razão maior que a de Abraão para ter Esperança. Pois Cristo é o cumprimento da promessa de Deus a Abraão. E a ressurreição de Cristo Jesus (1Pe 1.3) torna-se o começo de um novo tempo de Esperança, determinado pela renovação das promessas divinas em Cristo e agora também fortalecida pelo dom do Espírito Santo.


A vinda de Jesus ao mundo deu novo conteúdo e forma à Esperança. O cristão é salvo pela Esperança Rm 8.24; Esperança que é recebida pela graça 2Ts 2.16; Fora de Cristo não há Esperança de glória Cl 1.27; a justificação pela Fé produz paz na Esperança da glória de Deus Rm 5.1-2; a través do Espírito Santo, o cristão espera pela Fé a Esperança da justiça Ga 5.5; a Esperança é uma segura e firme âncora da alma Hb 6.17-19; é um antídoto para o desespero e desalento, e portanto, estimula uma atividade plena propósito, particularmente para o avance do Reino de Deus.


Desta forma, também Paulo mostra para os cristãos que, tendo a Esperança da ressurreição não deveriam temer como é feito pelos que não tem Esperança 1Te 4.13; Paulo lembra aos cristãos gentis que antes de ter conhecimento da Esperança que Deus tem dado através de Cristo, estavam afastados da nação com a que Deus havia tratado no passado e que naquela época, como gentis, “não tinham Esperança e estavam sem Deus no mundo”, Ef2,12.


Com isso, a Esperança não se fundamenta somente na promessa feita a Abraão e renovadas pelos profetas, mas principalmente em Cristo Jesus, que traz uma expectativa confiante e segura das promessas salvíficas, e isso deve motivar o homem a manter viva sua Esperança e suas expectativas, em uma caminhada perseverante e confiante, rumo às promessas de Deus, em Cristo Jesus.


Com Jesus a Esperança assume um significado mais abrangente que o dado no Antigo Testamento, e torna-se uma parte intrínseca para a vida cristã, junto com a fé e o amor. Certamente a Esperança está diretamente ligada à fé, a tal ponto que a ausência de uma compromete a eficácia da outra. Isto é, não existe Esperança sem fé e, da mesma forma, a fé sem a Esperança se torna vazia.


CONCLUSÃO

O termo Esperança, que em português, por ser uma língua romance, vem carregada do significado do próprio latim Sperare, que traz a ideia de um sentimento que direciona o olhar para o futuro. Principalmente, em condições onde o presente se revela com certa dor e tristeza, o futuro vem como um portador de condições melhores, desta forma, a luta pela vida e os sofrimentos são encarados como passageiros, temporais e até insignificantes perante um objetivo mais elevado, em busca de um bem maior. A Esperança, desde o ponto de vista teológico, é uma virtude sobrenatural, isto é, divina, que impulsiona o ser humano a procurar Deus como seu bem supremo.


Neste sentido o Cardeal Orani Tempesta, descreve: “A Esperança faz com que o nosso pensamento ultrapasse tempo e espaço e penetre na imensidão do espaço infinito. Assim, de posse desta virtude, esquecemo-nos momentaneamente das dores, dos sacrifícios, das doenças, das dificuldades, e lembramo-nos somente da felicidade regida pela paz e tranquilidade de nossas tensões. Isso não é utopia, é a dimensão do eu que se transcende a si mesmo rumo à espiritualidade superior”.


A esperança cristã é a espera de algo que já foi realizado em Cristo Jesus, e que certamente se realizará para cada ser humano em particular. Pois a Esperança na ressurreição não é uma coisa que poderá realizar-se ou não, mas é uma realidade certa, enquanto radicada no evento da ressurreição de Cristo. Neste sentido ter Esperança para o cristão, significa, para o Papa Francisco, “aprender a viver na expectativa, com um coração pobre e humilde, de alguém que não deposita a sua confiança nos seus próprios bens e capacidades, mas em Deus que ressuscitou Jesus dos mortos e há de nos fazer partícipes dessa mesma Ressurreição”.


Deus é a fonte da verdadeira Esperança, é Aquele capaz de cumprir suas promessas e as esperanças dos que confiam Nele. Por intermédio da sua bondade, mesmo que não a mereça, tem dado à humanidade consolo e uma boa Esperança 2Ts 2.16; e em qualquer tempo tem sido a Esperança do homem justo. Para o cristianismo a Esperança nas coisas de Deus é muito mais do que esta vida terrena pode oferecer. A Esperança mais preciosa para o cristão está no que está reservado na eternidade. Pois, o servo de Deus espera com alegria o tempo glorioso quando, tendo-se despojado do seu corpo mortal, terá parte no Reino de Cristo Jesus. Assim compartilhará à alegria e a glória do céu para sempre.


Portanto, desejo para todos os leitores que “o Deus de esperança vos encha de todo gozo e paz no crer, para que abundeis em Esperança pelo poder do Espírito Santo”, Rm 15.13.


Bibliografia Consultada

1 – A Bíblia do Peregrino.

2 – Chave Bíblica.

3 – Harris, R. Laird, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.

4 – Smith, Ralph L., Teologia do Antigo Testamento.

5 – Gonzáles, Justo L. Diccinario Manual Teológico,

6. Martín A. (1969) Teología de la Esperanza, Respuesta a la Angustia Existencia.




Elías Nova Nova


Diplomado em Teologia – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE | Belo Horizonte, Brasil (2002)


Licenciatura Plena em Filosofia e Letras – Universidade de Santo Tomás de Aquino | Bogotá, Colômbia (1996)

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