Reflexão para o V Domingo da Quaresma
Ver Jesus, encontrar Jesus são atos libertadores, atos de vida.
Padre César Augusto - Vaticano
“QUEREMOS VER JESUS.” Este era o desejo dos discípulos gregos de João Batista ao se dirigirem a Filipe e, certamente também nosso. Quando Filipe e André levaram esse desejo ao Senhor, escutaram a seguinte declaração: “Quem se apega à sua vida, perde-a; Se alguém me quer servir, siga-me.”
Nada de euforia! Pelo contrário, muita lucidez e autêntica seleção. Jesus veio para todos nós e deseja ser acolhido por todos, mas seu seguimento está no abandono, na entrega, na doação como vimos no domingo passado. Por outro lado, o Senhor diz: “Quem faz pouco de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna.
Nossa natureza rejeita tudo aquilo que é dor, que é desagradável, que é morte. Mas por que essa fuga? Vamos ficar fugindo a vida toda sabendo que a morte terá a última palavra? Chegará um momento em que nada adiantará e morreremos. É isso que Deus quer? Foi isso que Ele planejou para nós?
Certamente não. Se fosse assim seríamos pessoas conformadas com a morte, com o destino de caminhar neste vale de lágrimas e morrer dolorosamente.
Mas não é assim. Queremos a vida e a queremos plenamente, com saúde, carinho, amor, eternamente feliz. Tudo isso porque essa é a nossa marca registrada. Fomos feitos pela vida e para a vida. Deus, Vida, nos fez para Ele, a VIDA. Por isso, tudo aquilo que traz sinais de morte, nós rejeitamos.
Contudo, frequentemente, nos enganamos. Quantas e quantas vezes escolhemos o caminho da morte como se fosse o da vida! O egoísmo, o “não” dito apelo da caridade, o gesto de amor e de perdão, o “sim” ao pecado, tudo isso são enganos e envenenamento para nossa vida feliz e para o encontro com o sofrimento e a morte.
Quando os gregos pediram para ver Jesus, estavam pedindo para ver a Vida e a Vida se apresentou a eles como serviço, entrega, doação.
A vida diz que ela não se coaduna com a morte e nem com seus sinais, ou seja, egocentrismo, personalismo, e seus familiares.
E nós, queridos ouvintes? Também nós queremos ver Jesus, mas como analgésico para nossos males, ou como saúde, como Vida?
Aceitamos suportar sofrimentos por causa de nossa fé em Jesus? Aceitamos renúncias, abnegações para que a vida do outro seja mais saudável e feliz?
Como é nossa relação conjugal, familiar e de amizade? É relação libertadora, de doação, de crescimento ou nós a privatizamos e subordinamos o outro às nossas necessidades e caprichos, ou nós aos dele?
Ver Jesus, encontrar Jesus são atos libertadores, atos de vida.
Do mesmo modo que Moisés foi convidado a tirar suas sandálias porque estava em terra sagrada, o que devo tirar de meu coração para que, de fato, possa ver Jesus e permanecer com ele?
A 1ª leitura fala da lei da Aliança impressa pelo Pai em nossas entranhas, e a 2ª, da obediência de Jesus que se tornou salvação para todos nós. Aliança e obediência são provocadoras de vida, aliás, já são a própria Vida.
Que cada dia, o desejo de ver Jesus, renove em nós a obediência que nos une ao Pai e nos torna produtores generosos de bons frutos. Só produz frutos quem está com Jesus.