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Quem é o Espírito Santo?




Após 50 dias, a contar da ressurreição de Jesus, os Apóstolos, reunidos num mesmo lugar, vivenciaram uma experiência nova. Vindo sobre eles como que línguas de fogo, após terem sentido no cenáculo um ruído como o de um vento impetuoso, desapareceram-lhes o medo, o desânimo e a dúvida (Cf. Atos 2, 1-11). De fato, o Senhor Jesus, antes de subir aos céus, lhes havia prevenido: “Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de compreendê-las agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, vos guiará em toda a verdade” (Jo 16, 12-13).


Após aquele Pentecostes, os discípulos saíram da sala da ceia com a certeza inabalável de algumas verdades até então meio obscuras para eles. Não tiveram mais dúvidas de que Cristo era o Messias esperado, compreenderam que Jesus humano era também de natureza divina, e creram, de forma indubitável, que ele havia ressuscitado dos mortos. São Cirilo de Jerusalém (séc. IV) se expressou sobre esta clarividência da seguinte forma: “Quem se encontra nas trevas, ao nascer do sol recebe nos olhos a sua luz, começando a enxergar claramente coisas que até então não via”.


Destas certezas, passaram a ter comportamento diferenciado do período anterior. De medrosos que eram, a ponto de Pedro, primeiro dos Apóstolos, negar seu Mestre diante de uma servente do templo, passaram a atitudes destemidas diante de juízes, magistrados, governadores e outros chefes do povo. Nada mais lhes metia medo e nem lhes impedia de pregar em nome de Cristo, nem a dor, nem a espada, nem tribulação, nem angústia, nem perigo, nem fome (Cf. Rom 8, 35-36).


Como o fogo que se distribui em infinitas chamas sem nada perder de seu calor e de sua luz, nem diminuir de sua inteireza e intensidade original, assim o Espírito Santo os invadiu por inteiro, dando a cada um acolhê-lo conforme a sua necessidade pessoal, como expressou São Basílio Magno: “O Espírito Santo está presente em cada um dos que são capazes de recebê-lo, como se estivesse nele só, e, não obstante, dá a todos a totalidade da graça de que necessitam”.


São Paulo escreve aos Coríntios: “Ignorais, por acaso, que vosso corpo é templo do Espírito Santo, que mora em vós, e que vos é dado por Deus? E, portanto, ignorais também que vós não vos pertenceis a vós mesmos?” (I Cor 6, 19).


Como o vento que não se vê, mas que é constituído de força e de aragem, o Espírito Santo espalha suas sementes por todos os lugares e dá ao fiel a tranquilidade de alma para permanecer no amor e na paz, mesmo quando sopram os ventos da perseguição e do martírio.


O Espírito Santo produz, renova e reforça a unidade dos que creem e se juntam como irmãos. Faz cumprir o desejo expresso na longa oração de Cristo, antes de se entregar aos soldados de Pilatos, quando orou: “Que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti” (Jo 17, 21).


Como ensina o Concilio Vaticano II (1962-65), o “Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis como em um templo. Neles ora e dá testemunho da adoção de filhos. Conduz a Igreja ao conhecimento da verdade total, unifica-a na comunhão e nos ministérios, ilumina-a com diversos dons carismáticos e hierárquicos e enriquece-a com seus frutos” (Lumen Gentium, 4.12).


No Cenáculo de Pentecostes, encontrava-se, entre os Apóstolos, segundo a narrativa de Lucas no Atos dos Apóstolos (Cf. Atos 1, 14), Maria, a mãe do Senhor que também foi novamente inebriada com a força do alto, como acontecera no dia em que o Arcanjo Gabriel lhe anunciou que seria a Mãe do Salvador. Lá foi concebido o Filho de Deus em seu seio virginal, aqui é gerada a Igreja, Corpo Místico de Cristo. Por este motivo, a Igreja invoca Maria, com o título de Mãe da Igreja, cuja festa litúrgica, por iniciativa do Papa Francisco, será celebrada, pela primeira vez, na Segunda-Feira após o Domingo de Pentecostes.


O Espírito Santo é a alma da Igreja, a força e a luz de cada fiel.


Autor: Dom Gil Antônio Moreira

Arcebispo de Juiz de Fora

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