Sabedoria
Existem muitas lendas, parábolas, ensinamentos que falam de sabedoria. Quem tem este dom é denominado sábio. Em geral estas pessoas são caracterizadas como idosos, serenos, introspectivos, moderados e sóbrios no falar, afastados da agitação do cotidiano e ao mesmo tempo muito cientes dos dramas existenciais e sociais, respondem de forma indireta obrigando a pessoa a colaborar na busca da resposta.
Na Bíblia, existe um livro denominado “Sabedoria” que neste mês de setembro é objeto de estudo na Igreja. Além deste livro existem muitos outros textos bíblicos redigidos em linguagem sapiencial abrindo espaço um amplo estudo, pesquisa e múltiplas orientações vivenciais. Também não aparece uma definição unívoca, uma vez que fala de decisões para a vida e o cotidiano não se apresenta monocromático e nem rotineiro.
“A sabedoria é um espírito amigo do ser humano” (Sb 1,6). A característica fundamental e primeira da sabedoria é ela ser a “arte do discernimento para fazer aparecer o que favorece a vida ou, ao contrário, o que leva a morte”. Neste sentido, na arte da sabedoria conta a experiência pessoal, a comunhão com as pessoas do passado, a interpretação dos fatos ocorridos e a partir daí nascem lições para orientar as escolhas e o comportamento.
A sabedoria bíblica também tem outros aspectos. Reflete a sabedoria real necessária para quem governa. Governar exige discernimento para escolher o bem comum e executá-lo depois. O rei e seus conselheiros necessitam estar em harmonia com a sabedoria divina não podendo centra-se sobre si próprios, mas no bem de quem governam. Ser sábio é ter o “temor de Deus”. A fonte da vida e do sucesso deveria ser procurada na fidelidade aos mandamentos de Deus que são sábios caminho de vida. A sabedoria reflete os temas existenciais da vida: a morte, a imortalidade, o sofrimento e o sentido da vida. A sabedoria é um dom de Deus que transforma o coração do homem, e ao mesmo tempo, uma qualidade humana adquirida por meio do aprendizado.
A sabedoria se desenvolve com o trabalho da razão, da inteligência e dos dados das ciências. Reexamina ideias aceitas, slogans, provérbios e máximas do senso comum relacionando-os com as mudanças históricas. Ao fazer este processo ajuda a corrigir visões de mundo e análises de comportamento. Por outro lado, a sabedoria também faz ver os limites do saber humano e previne contra o perigo de confiar unicamente na inteligência e na racionalidade.
Sim, a sabedoria é um dom individual recebido gratuitamente e amadurecido com a vivência, o estudo e o esforço. Também é um desafio comunitário, isto é, formar uma comunidade ou um povo sábio. Não pode ser tratado como um privilégio de alguns, mas uma responsabilidade de cada um. Começa com a educação dos pais, a seguir agrega-se a escola que ensina a viver bem e feliz, além de outros meios coletivos. Uma comunidade é rica de sabedoria quando o bem do próximo está em primeiro lugar nas suas escolhas e relações, isto é, não exclui ninguém, não rejeita ninguém e não julga e nem mede somente pelas aparências, mas pela verdade. Uma comunidade sábia contagia vida.
E para concluir, um texto do livro dos Provérbios 6, 16-19: “Seis coisas detesta o Senhor e uma sétima sua alma abomina: olhos empinados, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que maquina projetos perversos, pés velozes para correrem ao mal, testemunha falsa, proferindo mentiras, e quem semeia discórdia entre irmãos”.
Autor: Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo