O SIGNIFICADO DE ALIANÇA NA BÍBLIA
Foto: Missão Aliança
Aliança é um termo que vem do verbo aliar e, portanto, refere-se à ação que acontece entre duas ou mais pessoas, organizações ou nações que, ao assinar um pacto, acordo ou convenção, conforme o caso, procura conseguir objetivos comuns e firmar interesses em comum, hoje em dia isso pode ocorrer entre pessoas, empresas, sociedades, partidos, países etc.
Portanto a Aliança é o ato ou efeito de aliar-se. É um pacto, um ajuste, um acordo. É a união harmoniosa de coisas diferentes entre si para conseguir um objetivo comum, isto é, que beneficie todas as partes envolvidas.
NO ANTIGO TESTAMENTO
A palavra hebraica Berit, que significa Aliança é um dos termos fundamentais da teologia bíblica. Ela indica a ideia de: acordo, confederação. Muito provavelmente, esse nome deriva da raiz Acadiana que significa “encadear, colocar grilos”; têm paralelos nas línguas hitita, egípcia, assíria e aramaica.
Ela geralmente se refere ao ato ou ao rito de estabelecer uma aliança ou contrato formal entre duas partes envolvidas em um ato.
No mundo antigo a Aliança é sempre sagrada, porque é colocada sob a proteção e vigilância da divindade, por isso Deus pune o transgressor (Gn 31,13; Am 1,9 1Sm 20,23;42, assim também nos textos babilônicos e hititas). No Antigo Testamento foi usada a palavra hebraica Berit para designar um acordo, um pacto entre dois chefes ou reis. A Berit é, portanto, um ato jurídico e político que impõe deveres para garantir direitos para ambos os lados.
Para o povo de Israel, a divindade não é apenas proteção e salvaguarda da Aliança. Também entra na aliança como parte. Portanto, a Aliança é a relação que Deus estabelece com os representantes do povo que tem escolhido. Esta Aliança é feita por iniciativa de Deus, a primeira é com Noé: “Eu faço uma aliança convosco e com vossos descendentes” (Gn 9,9) e seu sinal é cósmico, o arco íris. A segunda é com Abraão “Serei teu Deus e de teus futuros descendentes” (Gn 17,7) e seu sinal é a circuncisão. E a terceira é com Moises “Eu vos adotarei como meu povo, e serei vosso Deus” (Ex 6,7) e seu sinal é o sábado. Nesses casos o homem aceita a aliança (promessa de Deus) com um ato de fé e confiança; confia em Deus, de modo que tal atitude orienta sua vida.
Na visão da sarça ardente, Deus revelou a Moisés, seu nome e seu plano para Israel: ele quer libertar Israel do Egito para estabelecê-lo na terra de Canaã (Ex 3,7-10.16s), pois considera Israel seu povo (Ex 3,10), a quem quer dar a terra prometida aos pais (Gn 12,7 13,15). Isso supõe que, por parte de Deus, Israel é objeto de escolha e depositário de uma promessa.
O rito da aliança consiste em uma aspersão do altar e do povo com o sangue de animais sacrificados, para mostrar que uma única vida une Deus e seu povo de agora em diante. Esta Aliança garante a identidade de Israel e faz deles um povo de irmãos. A fidelidade é recompensada com a benção, a vida; enquanto a infidelidade é sancionada com a maldição, a morte. Se há uma ruptura nos laços da Aliança, é sempre por parte dos homens (Jr 11,10). E quando Deus sofre com esta ruptura (Os 11,8-9) e até sente raiva contra o seu povo.
A Aliança era unilateral em seu estabelecimento, mas mutuo, ou bilateral, em sua realização. Nisso reside a importância de santificação e perseverança pessoal. Deus ordena que seu povo guarde a Aliança com Ele, mediante o amor e a obediência (Dt 7.9,12; 1Rs 8,23). A lei e todo o sistema de adoração de Israel estavam relacionados com a Aliança (Ex 24,7-8; 31,16; 34,28).
O êxodo vem confirmar a revelação do Horeb: Deus ao libertar efetivamente seu povo, mostra que ele é o Senhor e que Ele é capaz de impor sua vontade; assim, as pessoas liberadas respondem ao evento com a fé (Ex 14,31). Agora, uma vez que este ponto foi adquirido, Deus já pode revelar seu plano de Aliança: “portanto, se quereis obedecer-me e guardar minha Aliança, serei minha propriedade entre todos os povos, porque toda a terra é minha. Sereis um povo sagrado, um reino sacerdotal” (Ex 19,5-6). Essas palavras sublinham a gratuidade da eleição divina: Deus escolheu Israel sem méritos de sua parte (Dt 9,4ss), porque ama Israel e queria manter o juramento feito com seus pais (Dt 7,6ss).
Com a posse da terra prometida, era necessária uma nova organização para cuidar da terra, por isso foram criados vários modelos de governança, mas todas deram errados e tiveram que se render à monarquia, que tanto rejeitavam por causa da experiência de escravidão no Egito. Com o estabelecimento da monarquia, a situação histórica mudou substancialmente, e por isso o estabelecimento da aliança davídica era necessário.
O rei de Israel agora é o mediador entre Deus e seu povo, portanto, fazer uma Aliança com o rei de Israel era, de alguma forma, como estender a aliança do Sinai para os povos que faziam Aliança com Israel. A Aliança patriarcal e a davídica estão intimamente unidas, ambas são promissoras. As promessas patriarcais foram cumpridas fielmente no tempo de Davi e especialmente no reinado de Salomão, aumentando a promessa de um reino eterno para os seus descendentes, o que implica que a Aliança patriarcal é substituído pela nova Aliança de uma certa maneira. Em 2Sm 7, a Aliança aparece em forma narrativa, mas certos termos que são usados são uma compreensão clara de que existe um fundo de convênio.
Mas quando os governantes e o povo se afastam dos princípios acordados na Aliança, surge a figura dos profetas para chamar o povo de Israel a viver à Aliança do Sinai. É verdade que todo Israel tinha se comprometido livremente a respeitar a lei contida no código da Aliança, que governa a vida social e a vida religiosa de todos (Ex 20,22-23,19). Então Moisés “Tomou o documento da Aliança e o leu em voz alta para o povo, que respondeu: Faremos tudo o que o Senhor manda, e obedeceremos” (Ex 24,7).
Depois do exílio é feita uma releitura da Aliança, onde os sacerdotes de Jerusalém, compreenderam que a Aliança não deve descansar na fidelidade do povo, pois a fidelidade do povo nunca é duradora, mas deve encontrar seu fundamento somente em Deus, que sempre é fiel. No lugar de ser bilateral e condicional passar a ser uma Aliança unilateral e incondicional, isto é, só Deus está comprometido e para sempre.
Com a destruição do templo de Jerusalém em 587, a ruptura da aliança é evidente e parece definitiva. Pois a Aliança sinaítica fracassa, porque o povo a viola e a Aliança davídica evolui pelo dinamismo da promessa. Assim abre caminho a ideia da futura nova Aliança, escatológica, messiânica. Com isso o judaísmo volta a reafirmar a esperança e a promessa de uma era vindoura, quando uma nova Aliança será concedida por Deus ao seu povo (Is 55,3; 59,21; 61,8; Jr 31,31-40; 32,40; 50,5; Ez 20,37; 34,25; 37,26; Os 2,18). Essa era é descrita como a do reinado de justiça universal do Messias (Is 42,6; 49,8; Ml 3,1), ligado a regeneração humana pelo Espirito Santo (Is 59,21; Ez 36,24-38).
Jeremias anuncia uma nova Aliança que será configurada, não mais no exterior, como um regulamento, mas no interior de cada pessoa, como uma relação pessoal e recíproca “Vede, chegaram dias – oráculo do Senhor – em que farei uma Aliança nova... Colocarei minha Lei em seu peito e a escreverei em seu coração, seu serei seu Deus e eles serão meu povo” (Jr 31,31-33). E para Ezequiel isso é de importância vital que, novamente por iniciativa de Deus acontecerá uma renovação humana “Eu vos darei um coração novo e vos infundirei um espírito novo” (Ez 36,26-27).
Estes textos prefiguram maravilhosamente bem a Aliança nova que será configurada por Jesus “Esta é a taça da nova Aliança, selada com meu sangue, que é derramado por vós” (Lc 22,20). Aliança definitiva e gratuita, fundamentada no amor incondicional de Jesus por todos.
NO NOVO TESTAMENTO
No Novo Testamento a palavra grega diatheke foi traduzida para o latim pelo testamentum, e daí passou às línguas modernas derivadas desta língua (espanhol, francês, italiano, português, etc.). É por isso que o Antigo e o Novo Testamento são comumente chamados (Antiga Aliança e Nova Aliança).
Embora a palavra grega normal para o pacto seja suntheke, que sempre descreve um acordo feito em termos iguais e que qualquer das partes pode alterar. Mas a palavra berit (Aliança em hebraico) significa algo diferente. Deus e o homem não estão em condições iguais; Isso significa que Deus, por sua própria opção e em sua infinita graça, ofereceu esse relacionamento, que o homem não pode alterar, mudar ou anular, mas apenas aceitar ou rejeitar. Agora, o exemplo supremo de tal acordo é "um testemunho".
Sabendo isso, então é mais fácil entender que, o Novo Testamento apresenta a obra de Jesus como uma nova Aliança contraposta a antiga do Ex 24, segundo Jr 31,31-34: está dominada pelo Espírito (2Cor 3,6ss); é de homens livres (Gl 4,21ss); é superior a precedente e a deixa antiquada (Hb 7,22). Seu mediador é Jesus, não Moisés (Hb 9,15).
Os evangelhos e o livro do Atos (3,25, cf. Gn 12,3; 22,18; At 7,8 cf Gn 17,10) mantem evidentemente a ideia do Antigo Testamento: Lucas em 1,71 faz alusão às promessas divinas, entre todas a feitas a Abraão (Gn12,2), e com os Patriarcas de Israel (Gn 15,18; 17,1-4), por isso Zacarias dá graças a Deus porque tem cumprido, com o nascimento de João, sua promessa de imediata saúde, como fora feita com seus antepassados.
Agora a nova Aliança é a promessa que Deus faz com a humanidade, de que perdoará o pecado e restaurará a comunhão com aqueles cujos corações estão voltados para Ele. Jesus toma o rito do pão e do cálice e os dota de um sentido completamente novo. Ele se entrega por eles em corpo e sangue e com isso, entrega-lhes sua vida como alimento. E pela participação no pão e no vinho os faz participantes da sua vida. Isto é, com o sacrifício do seu sangue sela a nova Aliança. Portanto, Jesus Cristo é o mediador da nova Aliança, e a sua morte na cruz é a base da nova promessa (Lc 22,20).
Esta Aliança é nova porque abre uma nova condição de comunhão entre o homem e Deus (Hb 9,12); é também nova e melhor do que a antiga porque o Filho na cruz se rende a si mesmo e àqueles que o recebem, dá-lhes o poder de serem filhos do Pai (Jo 1,12; Gl 3,26). O mandamento "Faça isto em memória de mim" indica a fidelidade e continuidade do gesto, que deve permanecer até o retorno do Senhor (1Co 11,26).
Para Paulo a nova Aliança concluída mediante o sangue de Jesus Cristo (1Cor 11,25), é a economia divina da saúde na que os filhos de Deus gozam da liberdade procurada por Cristo, enquanto a antiga Aliança representa uma escravidão (Gl 4, 22-31). O fundamento da diferença entre a antiga e a nova Aliança é o Espírito Novo (2Cor 3,6 Rom 7,6, cf Ez 36,25-28), que redime os crentes em Cristo da escravidão da carne (Rm 8,1-4) e os faz filhos de Deus (Rm 8,14 Gl 4,6 5,18) e converte-os em uma nova criação (Gl 6,15 2Cor 5,17).
Sob a nova Aliança, a humanidade tem a oportunidade de receber a salvação como um presente gratuito (Ef 2,8-9). A responsabilidade é exercer fé em Cristo, Aquele que cumpriu a Lei em favor e acabou com os sacrifícios da Lei por sua própria morte sacrificial. Através do Espírito Santo vivificante que vive em todos os crentes (Rm 8,9-11), é compartilhada a herança de Cristo para desfrutar de um relacionamento permanente e ininterrupto com Deus (Hb 9,15).
CONCLUSÃO
Tanto no Antigo como no Novo Testamento, significa: solidariedade, pacto, fidelidade, unidade, amor. A Aliança sempre faz referência ao outro. Viver em uma Aliança significa amar. A experiência da fé implica viver em uma situação de parceria. Ao mesmo tempo, aqueles que vivem em uma situação de Aliança estão no caminho que leva a Cristo. Cristo esta onde os homens se respeitam e se amam.
A nova Aliança, que não está escrita em tabua de pedra, mas nos corações dos homens, foi realizada por Jesus Cristo quando na véspera da sua morte disse na última ceia que seu sangue era “a nova Aliança derramada para muitos”.
A Aliança iniciada com Adão e culminando na morte e ressurreição de Cristo, é um comportamento típico de Deus para expressar seu amor pela humanidade: Deus, desce ao nível do homem e, como igual, faz um pacto com o homem. Deus faz isso continuamente, porque o homem não é fiel ao pacto. E em vez de quebrá-lo definitivamente, Ele o renova e o torna mais forte: seu amor não desiste.
Embora as alianças entre homens e povos sejam comumente entendidas e aceitas, o aspecto mais difícil de entender para a cultura contemporânea, é dado pelo fato de que na Bíblia a ideia de Aliança, é aplicada à relação de amizade e salvação entre Deus e humanidade. Esta ideia é narrada nos textos inspirados como um "encontro decisivo" que evolui ao longo do caminho e culmina com o dom da vida e da salvação de Deus; em primeiro lugar reservado para Israel e, mais tarde, com a vinda de Jesus, aberto a todos os homens.
A Aliança é proposta como uma grande história de amizade entre Deus e os homens. E a amizade implica um conhecimento mútuo das partes, que abre lugar ao diálogo para entrar no íntimo e respeitar a sua verdade existencial, isto é, fazer experiência prática da importância do outro como ele é, aceitá-lo e promovê-lo. A iniciativa dessa amizade é certamente as vicissitudes de Deus, e da rota proposta nos relatos bíblicos ajuda a entender como as diferentes fases da Aliança são passos pedagógicos, porque os dois parceiros podem aprender a conhecer uns aos outros, para conhecer e viver em um relacionamento certo.
Com a doutrina cristã da Trindade, Deus é definido como estrutura relacional trinitária, como “relação subsistente”, se o homem é uma imagem de Deus, então isso significa que ele é a essência baseada no relacionamento; que ele através de todos os seus relacionamentos procura esse relacionamento, que é a base de sua existência. Então a Aliança seria a resposta à semelhança do homem com Deus; nela brilharia quem é o homem e quem é Deus; para Ele, que é totalmente relacionado, a Aliança não seria, portanto, algo que está externamente na história longe de sua essência, mas a manifestação do que é Ele mesmo, o esplendor de seu rosto.
Bibliografia Consultada
1 – A Bíblia do Peregrino.
2 – Chave Bíblica.
3 – Harris, R. Laird, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.
4 – Smith, Ralph L., Teologia do Antigo Testamento.
5 – Gonzáles, Justo L. Diccinario Manual Teológico,
6 – Comentario al Nuevo Testamento, William Barclay. 1999 por CLIE para la versión española. Publicado originalmente en 1970 y actualizado en 1991 por The Saint Andrew Press, Escocia.
Elías Nova Nova
Diplomado em Teologia – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE | Belo Horizonte, Brasil (2002)
Licenciatura Plena em Filosofia e Letras – Universidade de Santo Tomás de Aquino | Bogotá, Colômbia (1996)